A rio-negrinhense Cristiane Stoeberl é professora do curso de Direito e está residindo há poucos meses na Alemanha, onde realiza seu curso de Doutorado. Ela comentou sobre a polêmica a respeito de uma bandeira exposta durante o desfile da Schlachtfest, sábado (7), nas ruais centrais de São Bento do Sul.
Segundo ela, há diferenças entre a bandeira utilizada no desfile pelas bandeiras usadas pelos nazistas. “A cruz de ferro é um símbolo com o qual as tropas se identificam. Do ponto de vista dos soldados, não é vergonhoso nem contestável. A tropa associa a cruz de ferro aos seus valores originais, como bravura, amor à liberdade e cavalheirismo”, frisa.
Conforme ela, a simbologia nazista ainda é uma preocupação para a Alemanha atualmente. “Para se ter ideia, fui visitar os monumentos nazistas e é uma polêmica com o que se faz com tudo isso, assim como os símbolos que eles se apropriaram, os prédios que ficaram. É um problema para eles. Onde Hitler fazia seus discursos, hoje tem um autódromo, por exemplo”, comentou.
O tema, segundo Cristiane, é complexo até mesmo para os alemães, já que muitos de seus símbolos foram usurpados pelo Partido Nazista quando chegou ao poder. “Estamos vivendo um clima perigoso, tivemos aumento de células neonazistas e isso é preocupante. A lista de boicotes era uma tática nazista, a censura de livros, a perseguição a homossexuais. Não é atoa a preocupação da comunidade”, ressaltou.
Faltou bom senso
Para o professor doutor Wilson de Oliveira Neto, pesquisador na Univille e com forte atuação nos cursos de História e Direito com trabalhos sobre o fascismo histórico e a Segunda Guerra Mundial, o que ocorreu foi um anacronismo de mau gosto. “Não é uma bandeira nazista. Desde que foi fundada, em 1871, a Alemanha possui diversas bandeiras históricas, muitas delas de natureza militar. Aquilo que foi exibido no desfile era para ser uma representação da Reichskriegsflagge, em uma tradução livre para o português, Bandeira Militar Nacional, a bandeira de guerra do Império Alemão, em uso entre os anos de 1870 e 1918, sendo suas cores branca e preta, pois representam as cores do Reino da Prússia (1701-1918), que liderou o processo de unificação dos antigos Estados Alemães. Durante o regime nacional-socialista, de 1933 a 1945, a bandeira foi reintroduzida quando da criação da Wehrmacht, em 1935. Como ocorreu com os demais símbolos alemães anteriores ao nazismo, a Reichskriegsflagge foi nazificada, sendo a águia imperial alemã substituída pela suástica e as cores da Prússia trocadas pelas cores da bandeira nazista, vermelha, preta e branca”, explica.
Mistura de erros
Porém, conforme Neto, o que aparece no desfile foi uma mistura de erros. “Misturou a antiga bandeira do Kaiserreich, que tem nada a ver com o nazismo, com as cores da Reichskriegsflagge da Wehrmacht. Sendo bem exato, a bandeira exibida no desfile não é uma coisa, nem outra. O que é menos ruim, pois se a turma está com vontade de inventar tradição e evocar as raízes dos seus ancestrais, que, pelo menos, façam de forma correta”, cita.
“Por outro lado, antes de sair postando vídeo em rede social denunciando “A” ou “B” de nazista ou de fascistizante, é necessário ir além do visível e realmente saber do que se trata. Pois, ações e palavras impulsivas não contribuirão com a defesa da democracia e da luta contra o extremismo político e a reabilitação do fascismo histórico, do qual o Nazismo foi sua experiência mais dolorosa”, completa o pesquisador.
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