Notadamente o Partido dos Trabalhadores está surfando em uma onda negativa, causada pelas comprovações de corrupção em Brasília, onde as maiores lideranças da sigla admitem o comprometimento de integrantes fortes do partido em esquemas de desvios milionários. Isso tudo tem afetado diretamente os partidos em âmbito estadual, se estendendo para os municípios.
Em alguns casos, a onda anti-PT que toma conta do Brasil acaba atingindo em cheio os projetos e as lideranças da sigla. Em São Bento do Sul, embora a maioria dos integrantes relute em aceitar que o momento é de caos generalizado e que os reflexos acontecerão nas eleições do próximo ano, salvo algum fato novo de relevância que possa ocorrer, políticos com visão de futuro, com intenção de seguir no processo eleitoral, encaminham decisões que podem fazer a diferença.
O caso mais delicado em São Bento do Sul é do vice-prefeito Arildo Gesser, que vive o dilema de estar “entre a cruz e a espada”. Para ele, o calvário teve início antes mesmo da onda de denúncias contra os desvios acobertados pelo governo federal. No ano passado, por ocasião das eleições estaduais, Gesser acabou relegado ao anonimato pelos próprios colegas de partido no momento em que seria decidido pela candidatura de um nome da região. “Se eu falar que tudo foi apagado e que não ficou sequelas, eu estarei mentindo. Fatos da natureza que tivemos no ano passado sempre deixam marcas profundas e difíceis de ser digeridas por completo. Mas estamos trabalhando para seguir em frente entendendo que a política tem dessas coisas”, analisa.
Após a malsucedida campanha de Maurício Maia na tentativa de se eleger deputado estadual − a qual não conseguiu aglutinar forças dentro do próprio partido −, o racha no PT ficou claro. Numa ala, seguiram os defensores da candidatura de Maia e, na outra, os apoiadores das ideias de Gesser e do agora secretário de Desenvolvimento Econômico Jota Pierin. Embora todos os esforços do partido para colocar panos quentes na situação, estava − e continua − perceptível a divisão no grupo.
Fica ou não fica?
Indagado sobre a possibilidade de deixar o PT e ingressar em outra sigla visando até mesmo a permanência na chapa majoritária, Arildo disse que está pensando em todas as possibilidades. Em seu entendimento, há necessidade de estar em um partido que trabalhe pelo crescimento moral. “Fui para o PT por admirar as propostas do Lula antes de ser presidente, mas isso parece ter mudado. Hoje vejo que a população já não está mais vendo com bons olhos o PT por conta dos escândalos em Brasília. Pena que a maioria das pessoas não veem que existem mais partidos envolvidos com os atos de corrupção, muitos até mais que o PT, mas o partido é presidente hoje. Não defini nada sobre permanecer na sigla até o momento, mas, dentro dos prazos legais, irei me aproximar do comando estadual e municipal para saber das intenções também. Muita coisa não depende de mim, mas das intenções partidárias. Temos tempo ainda para pensar em tudo que podemos e devemos fazer até que cheguem as eleições de 2016”, encerra.
“Partido está fazendo pouco para mudar”
O vice-prefeito volta a ser destaque em razão das tratativas do PMDB visando as eleições do próximo ano. Apesar de o partido participar da coligação com o PT em âmbito federal, sendo vice-presidente da República com Michel Temer na chapa com Dilma Rousseff, a tendência para os estados do Sul é que o eleitor siga o procedimento de voto do ano passado, em que a presidente perdeu por muitos votos, em especial na região do Planalto Norte, onde a lavada foi histórica. “Tenho consciência de que isso pode afetar a votação lá na frente, por isso ainda precisamos saber do partido quais as medidas que serão tomadas no sentido de resgatar a confiança da população. Mas, infelizmente, sinto que o partido está muito abalado e fazendo pouco para mudar a realidade. A presidente vai tomar medidas em Brasília, mas aqui a situação é outra, e o povo não vai esquecer tão facilmente o que vem sendo veiculado diariamente pela grande mídia. Claro que vai afetar nas eleições municipais”, segue Arildo.
Gesser ainda destaca que o momento é muito conturbado e que é necessário aguardar os resultados das manifestações ocorridas no fim de semana. “Se não acontecerem as mudanças prometidas − as reformas e a punição aos corruptos −, o povo vai retornar às ruas, e a situação ficará ainda pior. Por isso precisamos ter cautela neste momento. Mas é bom que se diga que o partido é formado por pessoas e que todos eles, lamentavelmente, contam com pessoas sem caráter. É preciso identificar essas pessoas, fazê-las pagar pelos crimes de corrupção e criar mecanismos que as proíbam de participar novamente de ações políticas. Não podemos mais aceitar que os corruptos não sejam impedidos de disputar eleições e sejam agraciados com cargos em governos federal, estadual e até municipal. Isso é uma afronta ao povo”, pontua.