Sexta-feira, 13 de junho de 2025

Pioneirismo entrelaçado com a história de São Bento do Sul

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• Atualizado 10 anos atrás.

O município de São Bento do Sul comemora hoje 141 anos de fundação e, ao longo de sua história, diversos fatos marcaram a cidade a nível regional, estadual e nacional. Porém, o pioneirismo são-bentense em determinadas áreas está entrelaçado com a sua história, com vários destaques. Em levantamento feito pelo doutor em história José Kormann, alguns destes fatos são evidenciados.

A primeira fundação catarinense no planalto

São Bento do Sul foi fundada em 23 de setembro de 1873, sendo a primeira cidade legitimamente catarinense no planalto catarinense. Antes, outras cidades já existiam, como Mafra e Lages, mas criadas ainda no período em que a região pertencia ao Paraná.

Conforme explica Kormann, quando da fundação de Joinville, em 1851, já estava prevista também a criação de uma colônia agrícola no alto da serra. “Isso era comum naquela época, eles criarem uma cidade litorânea e outra no alto da serra. Temos como exemplo Rio de Janeiro e Petrópolis, Santos e São Paulo, entre outras. E o mesmo foi previsto para Joinville, com a previsão de criar São Bento do Sul”, explica o historiador. A cidade em outra altitude tinha por objetivo gerar maior variedade de produtos produzidos, devido às diferenças climáticas, além de facilitar a defesa em caso de um ataque por via marítima. “Assim todos fugiriam para o alto da serra e estariam mais protegidos”, relata Kormann.
Mas, segundo o historiador, foi justamente esta fundação que extraoficialmente deu início ao Contestado e que posteriormente transformou-se numa das mais sangrentas batalhas ocorridas em solo brasileiro.

A primeira cidade catarinense a ter conflitos com o Paraná por causa de fronteiras

A criação de São Bento do Sul irritou os então governantes paranaenses e teria sido o estopim do processo do Contestado, iniciado ainda por volta de 1900 e que estourou em conflito armado em 1912. Os paranaenses alegavam que as terras de São Bento do Sul, assim como todo planalto catarinense, eram suas, e a tese era rejeitada por catarinenses, levando a uma ação judicial que tramitou no Supremo Tribunal Federal. Por conta disso, alguns conflitos foram registrados em terras então são-bentenses, na localidade de São Miguel. “Lá os paranaenses montaram um posto de coleta de impostos, cobrando de quem passava por lá vindo do planalto catarinense rumo à Joinville e São Francisco do Sul, e isso acabou criando brigas e tiroteio”, relata Kormann.

A primeira capital oficial catarinense fora de Florianópolis

Em 1893, por três dias, São Bento do Sul foi capital de Santa Catarina. O ato ocorreu durante a Revolução Federalista, que tentava tornar independente a região sul do Brasil e, acuados de Florianópolis pelas tropas federalistas, o governador Lauro Müller buscou refúgio inicialmente em Curitiba. Porém, logo depois, tornou São Bento capital catarinense. Mas o status de capital durou pouco, já que tropas avançavam tanto vindo de Joinville quanto via Lages, pela atual BR-116, obrigando o governador a transferir a capital para Mafra e, logo após, voltar para terras paranaenses. “E depois o governador fugiu novamente para Curitiba”, ensina Kormann.

A primeira cidade catarinense a ter iluminação pública elétrica

Enquanto cidades mais avançadas à época ainda usavam iluminação pública a base de lampiões com óleo de baleia, São Bento do Sul estreou seu sistema elétrico em 1906. Isso foi possível graças a investimentos feitos pela empresa que posteriormente se tornaria a Móveis Cimo, a qual adquiriu uma caldeira que contava com um gerador embutido. O equipamento gerou energia inicialmente para a localidade de Rio do Salto, hoje interior de Rio Negrinho, mas que àquela época pertencia ao território são-bentense. No mesmo período, foi construída uma usina hidrelétrica em Rio Vermelho, que já fornecia energia elétrica para o Centro são-bentense. “O Martin Zipperer contava que os cabos vinham pelas árvores e não por postes como hoje em dia. E em dias de chuva mais forte, sempre dava curtos-circuitos”, recorda Kormann.

A primeira cidade brasileira a ter uma Câmara de Vereadores 100% republicana

Conforme o historiador José Kormann, São Bento do Sul foi a primeira cidade brasileira a ter uma Câmara de Vereador formada em sua totalidade por republicamos. Tal fato ocorreu logo após a proclamação da República, em 15 de novembro de 1889. “Isto é relatado no livro de Carl Ficker”, explica ele, lembrando-se do trabalho feito por Ficker – o primeiro a escrever acerca da história de São Bento, com o livro “São Bento do Sul – Subsídios Para Sua História”, de 1973.

A primeira cidade catarinense a fundar uma sociedade literária

Fundada 15 de outubro de 1881, com o nome de Lese-Verein (clube da leitura em alemão), a Sociedade Literária foi a precursora em Santa Catarina, em grande parte pelo gosto pela leitura trazido pelos primeiros colonizadores. A sociedade − atualmente denominada de Sociedade Literária São Bento − é por alguns considerada uma das mais antigas ainda em funcionamento em toda América Latina.

A primeira cidade catarinense a fundar um sindicato, em 1897

Com o objetivo de reivindicar melhores preços nos fretes e estradas trafegáveis, em 1987 cerca de 1.000 carroceiros fundaram em São Bento do Sul o Sindicato Carroceiros Unidos. “Infelizmente não há qualquer documento que relate isso, já que muitos documentos e atas foram destruídos durante a Segunda Grande Guerra”, diz Kormann. Mesmo assim, registros orais atestam a existência do grupo, que durou praticamente até o fim da profissão de carroceiro, que teve seu momento derradeiro na década de 1950, com o surgimento e proliferação de caminhões. “Eu mesmo, ainda pequeno, via um carroção do Buschle puxado por oito cavalos”, recorda Kormann. Nos áureos tempos da profissão, os grupos chegaram a promover greves para terem seus direitos atendidos, e isso formava infinitas filas de carroças ao longo da Estrada Dona Francisca – a segunda estrada carroçável do Brasil.

A primeira cidade catarinense a exportar móveis

A grande oferta de madeira na região e o espírito visionário de Martin Zipperer fizeram a Móveis Cimo ser a primeira empresa a exportar móveis em Santa Catarina. Conforme José Kormann, isso ocorreu por volta de 1920, quando a empresa passou a vender caixotes de frutas – principalmente para acondicionar maçãs – para a Argentina, Chile e Uruguai e, junto às caixas, mesas e cadeiras passam a ser levados para fora de Santa Catarina. “Logo após, começou a era dos cinemas, quando a Cimo teve seu célebre momento, passando a exportar cadeiras de cinema para vários países”, ressalta Kormann.

A primeira cidade catarinense a produzir móveis através de chapas de madeira laminada

Considerado um dos maiores empresários que a região já teve, Martin Zipperer também foi pioneiro na busca de soluções para o setor moveleiro. Em uma de suas viagens à Europa, ainda na primeira metade do século passado, ele levou uma tora de imbuia para encontrar uma máquina que fosse capaz de transformar aquela madeira em laminados. “Muitos riram dele na época por levar uma tora junto, mas, como era uma madeira diferente, que não existe na Europa, ele fez questão que os europeus conhecessem a madeira e lá mesmo vissem se daria certo”, conta Kormann. O resultado foi melhor do que o esperado e fez com que a Móveis Cimo se torna uma potência na produção de móveis em madeira laminada, como cadeiras e poltronas.

A primeira cidade catarinense a fazer reflorestamentos

Novamente coube a Martin Zipperer ser o são-bentense precursor nesta área. “Ele via que, em algum momento − ainda nas décadas de 1920 e 1930 −, a madeira nativa chegaria ao fim. Por isso fez um reflorestamento de imbuia”, conta Kormann, que tem, entre seus mais de 20 livros publicados, um que narra a trajetória da família Zipperer, com especial destaque a Móveis Cimo. “Ele foi até mesmo condecorado no Japão por seu trabalho de reflorestamento”, explica o historiador. Além de imbuia, Martin fez reflorestamentos de araucária, num tempo que sequer imaginava-se a existência do pinus, usado em larga escala nos reflorestamentos da região. “As árvores de imbuia levariam 400 anos para serem usadas na produção moveleira e, infelizmente, o temor dele, que era de que algum trator destruísse tudo, acabou se concretizando”, pontua Kormann.

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