O gosto pela feijoada, pela cultura local e pelo pagode pegaram Johannes Schneider de jeito! Ele, que nasceu em Curitiba e foi adotado aos dois anos por uma família alemã, vive em Berlim com a nova família há 27 anos. No mês passado, através de um intercâmbio pela Faculdade Luterana de Teologia, João, como gosta de ser chamado aqui, chegou para passar o período de um ano em São Bento do Sul.
Atualmente com 29 anos, Johannes conta que nasceu na capital paranaense e foi muito cedo para fora do Brasil. “Eu nasci em Curitiba e com dois anos saí do país como filho adotivo. Fui pra Alemanha e cresci lá com minha família alemã”, conta.
Ele, que é deficiente visual, explica que nasceu com glaucoma e perdeu totalmente a visão ainda na infância. “Eu já tinha essa doença chamada glaucoma. Quando nasci, tinha um pouco de visão no olho direito, mas com 10 anos perdi essa visão. Fiz muitas cirurgias na Alemanha, umas 10, para tentar salvar, mas com 10 anos perdi a visão”, lembra.
Aluno da Faculdade Luterana na Alemanha, João conta que surgiu a oportunidade de realizar um intercâmbio no sul do Brasil e aproveitou a chance. “Estou fazendo intercâmbio na Faculdade Luterana de Teologia, vou ficar quase um ano aqui. Eu queria muito ficar mais tempo no Brasil, porque é meu país de nascimento e queria muito ficar no sul porque nasci em Curitiba. Ano passado, eu visitei o Brasil pela primeira vez, visitei minha família biológica em Curitiba e queria ficar perto deles. São Bento do Sul tinha essa oportunidade, por isso escolhi aqui”, ressaltou. “Queria muito ficar mais do que um ano. Eu amo o Brasil e estou muito feliz aqui. Talvez eu fique mais, talvez encontre uma namorada e forme uma família”, completou.
Ah, a comida brasileira!
Sempre dedicado aos estudos, João começou a aprender a língua portuguesa antes de vir ao Brasil. “Comecei a aprender há um ano e três meses o português. Fui fazendo aulas com uma professora de Campinas, duas vezes por semana”, conta.
Daqui, o que mais conquistou Schneider foi a gastronomia e a cultura. “Gosto da cultura brasileira, as pessoas são muito alegres e abertas. Para mim, é muito fácil fazer amizades, conhecer pessoas. Os alemães são bem fechados e mais sérios, mas os brasileiros são mais divertidos. E tem a comida brasileira também. Gosto de quase tudo, da feijoada, churrasco, coxinha e pão de queijo. Amo guaraná”, frisou.
Acessibilidade
Um dos questionamentos feitos a ele foi justamente sobre a acessibilidade (ou a falta dela) nos dois países. “Uma coisa muito boa aqui são as pessoas, que ajudam bastante e são muito abertas. Nunca tive problemas por causa da minha deficiência, quando preciso de algo todo mundo ajuda. Uma coisa mais difícil aqui é que o trânsito é muito complicado e lá no Mato Preto quase não tem ônibus ou Uber como em Curitiba, por exemplo”, disse.
Já na Alemanha, conforme Johannes, há mais opções de locomoção, mas também maiores desafios. “Na Alemanha, as cidades grandes têm metrô, trem, muitos ônibus. Isso é uma coisa muito boa e me ajuda bastante. Outras coisas são mais difíceis e temos muitas dificuldades com inclusão. No Brasil, tem coisas mais modernas e melhores”, citou. “Minha faculdade aqui em São Bento do Sul fez muitas coisas para melhorar o campus para pessoas com deficiência. Tem o piso, placas em braile com as salas. Minha universidade na Alemanha não tem isso”, completou.
Paixão pelo samba e pagode
Como a música sempre fez parte de sua vida, uma das primeiras coisas que Johannes fez ao chegar em São Bento do Sul foi procurar por aulas de cavaquinho. “Sempre gostei bastante de pagode e de samba, sempre senti muito forte no meu coração que queria tocar essa música. Na Alemanha, é muito difícil encontrar um professor que vá te ensinar cavaquinho. Eu sei tocar pandeiro, ukulele, violão e um pouco de piano também”, diz ele. “Estou gostando bastante do cavaquinho, tocando todos os dias. Talvez seja um pouco difícil para meus colegas do alojamento, porque eles têm que me ouvir tocando”, brincou.
Rodrigo Idalêncio, professor de Johannes na escola Espaço da Música, diz que ele surpreende a cada aula. “No começo foi um desafio quando ele fez a aula experimental. Ele tem uma percepção e a parte auditiva dele supre a parte visual. Ele consegue ter essa percepção de quando coloca os dedos no cavaquinho, escuta o som, grava a distância das casas e forma os acordes. No começo, eu pensei como iria ser, de repente ele tem essa facilidade. Surpreendeu”, ressaltou.
Youtube
Inclusive, Johannes criou recentemente um canal no YouTube para postar sua evolução no novo instrumento. O canal é o @Josinho-Music.
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