Os ponteiros do relógio da Igreja Matriz Puríssimo Coração de Maria apontavam três da madrugada quando os primeiros aventureiros começaram a chegar. O silêncio da madrugada de Sexta-Feira Santa contrastava com a empolgação dos participantes da excursão rumo a Garuva, onde está localizado o Monte Crista. Munidos de equipamentos e acessórios de montanhismo e camping, os 12 são-bentenses e três campo-alegrenses chegaram, por volta das 6 horas, ao marco inicial da caminhada/escalada, localizado à beira do rio Três Barras. Preenchidas as fichas cadastrais, os excursionistas juntaram-se a outras 380 pessoas, todas com o mesmo objetivo: chegar ao topo da formação rochosa a mais de mil metros acima do nível do mar.
Abre aspas
“Como é bom aproveitar o que a natureza nos oferece!. Quem puder fazer essa aventura deve conhecer este local lindo e admirável”
Deuson Morais, 38 anos, auxiliar de produção
“Todo o sacrifício foi recompensado com a maravilhosa vista lá de cima. O lugar é incrível, você purifica sua alma e sua mente”
Valentim Rafael, 25 anos, funcionário público
Lendas e mistérios
Local envolto em mistérios e lendas de toda ordem, o Monte Crista teria ligação, por meio de suas trilhas, com o Caminho do Peabiru, que, por sua vez, chegaria até Cusco, cidade peruana que foi sede do centro administrativo e cultural do Império Inca. O caminho teria sido utilizado há centenas de anos pelos jesuítas, os quais seriam responsáveis por esconder ouro a salvo de piratas marítimos. Segundo outra lenda, o Crista seria um dos três pontos magnéticos de maior magnitude do Planeta Terra, ao lado do Triângulo das Bermudas, na América Central, e das pirâmides do Egito. A figura do “Guardião do Crista” é a que mais se aproximada da realidade. De longe, o conjunto de pedras realmente lembra um guardião sentado nas proximidades do ponto culminante, a 967 metros acima do nível do mar. A suposta presença de extraterrestres também ronda o imaginário popular.
A distância até o acampamento central – chamado de “Cabeluda”, em alusão ao nome de uma cachoeira – é de aproximadamente dez quilômetros, 90% morro acima. Os mais ágeis cumpriram o trajeto em pouco mais de seis horas. Os que chegaram por último levaram dez horas para vencer o desafio, composto por trilhas em meio à Mata Atlântica. O tempo de caminhada foi permeado por paradas para refeições, fotografias, abastecimento de água ou mesmo para descanso. O caminho do Crista é repleto de árvores centenárias, flora exótica, pedras, erosões, barrancos, cavernas, córregos, quedas d’água, piscinas naturais e escadarias. Algumas das escadarias, aliás, estão dispostas de tal maneira que os aventureiros questionam-se de que forma – e como – foram construídas. Outro ponto peculiar é o trecho escorregadio, sempre cheio de lama, denominado “saboneteira”.
Dos 15 participantes da excursão que saiu de São Bento do Sul, nove visitaram o local pela primeira vez. É o caso do metrologista Tarcísio José Kujavski, 35 anos. Morador do bairro Mato Preto, ele destaca que a aventura representou inicialmente um desafio. “Foi uma grande superação”, resume. “Por várias vezes, pensei em desistir”, confessa. Porém, o prêmio pela chegada foi altamente recompensador, segundo ele. “A vista da natureza ainda intacta, mostrando toda a sua beleza e imponência, é indescritível”, relata Tarcísio, ressaltando, ainda, as novas amizades que fez durante a aventura.
Cansaço e recompensa
Entre os outros estreantes na montanha de Garuva está Bruno Fragoso, morador do Centro são-bentense. Com 25 anos, o auxiliar de produção levou sete horas e meia para cumprir o desafio. “Valeu cada gota de suor”, explica. “Foi uma aventura cansativa, mas compensadora. Todo mundo deveria conhecer este lugar”, comenta ele, frisando também a união e o companheirismo entre os participantes da empreitada. Morador do bairro Progresso, o encanador e eletricista Luan Eduardo Morais, 22 anos, destaca a recompensa após o esforço da caminhada. A paisagem do lugar foi o que mais chamou a atenção. “Você imagina uma coisa e, quando chega lá em cima, é melhor do que você imaginou”, relata Luan, que igualmente subiu pela primeira vez. Ele enfatiza, ainda, o fato de poder avistar a Baía da Babitonga a partir do acampamento. À noite, o que também se destacou foi a visão das luzes de Joinville e seu entorno. Ainda na Sexta-Feira Santa, a lua cheia nasceu avermelhada entre as montanhas e a referida baía, para deleite dos aventureiros.