Até o final da tarde de domingo (08), a Prefeitura de Rio Negrinho não conseguia dimensionar quantas famílias estavam desalojadas. “Estamos puxando mudança desde a madrugada. Já perdi as contas de quantas famílias atendemos”, informou Genésio Barboza, da Secretaria de Habitação de Rio Negrinho, que na tarde de ontem ajudava mais uma família a retirar os móveis de dentro de sua casa.
Muitos buscaram abrigo na casa de parentes ou amigos. Outros, de menor sorte, eram encaminhados para escolas ou igrejas que não foram atingidas pela cheias. “Saímos de casa às 4 horas da manhã só com a roupa do corpo e nos escondemos embaixo da ponte. Ficamos em 26 pessoas lá até amanhecer o dia”, relatou a aposentada Maria Madalena Gomes da Silva, de 58 anos, e que estava alojada na escola Aurora Siqueira Jablonski.
Comércio afetado
Uma das regiões mais afetadas foi o Centro, onde várias ruas ficaram embaixo d’água. Ao longo de todo o dia de ontem, vários foram os percursos feitos por canoas partindo das proximidades da Prefeitura para as lojas que estavam debaixo água. À margem da vasta região alagada, o comerciante Roberto do Prado olhava desolado para sua loja, praticamente submersa. “Subimos as mercadorias para o segundo piso, mas agora faltam 50 centímetros para a água atingir lá também. Minha casa também é no segundo piso, e nem sei o que fazer”, desabafou ele, ontem pela manhã. À tarde, a água já havia atingido suas mercadorias.
O cabeleireiro Valdemar Tallmann conta que tirou os móveis do seu salão, localizado no bairro Vila Nova, ainda no sábado, mas ontem a água atingiu o local para onde havia levado os materiais, junto à casa de um cunhado. Numa canoa, ele ia para o local ver como estava a situação dos familiares. Seu cunhado, minutos antes, havia se aventurado até o local a nado. “Nem sei se ele chegou lá. Estou preocupado”, disse, minutos antes de embarcar.
Na pressa de sair de casa, agarrou-se apenas a uma bolsa com os documentos. “Estou só com a roupa do corpo e os documentos. O resto perdi tudo”, lamentou. O abrigo junto à escola ocorreu ao lado do marido Valdemar da Silva. A filha de Maria Madalena, Vilma Terezinha Gomes da Silva Vieira, também buscou abrigo na mesma escola, e não conseguiu salvar nada da casa localizada nas proximidade do Tênis Clube. “Quando vimos de madrugada a água já estava entrando para dentro de casa. Não deu tempo de salvar nada”, citou.
Valdívia Moreira, de 58 anos, e o filho Luiz Henrique, de 12, tiveram maior sorte. “Conseguimos salvar alguns móveis, mas está tudo molhado”, queixou-se, ao lembrar que a mudança teve de ser retirada às pressas, já de canoa. Conforme ela, esta foi a terceira vez que a água entrou em sua casa alugada, também localizada próximo ao Tênis Clube, mas nunca com tanta rapidez. “Agora não volto mais pra lá. Amanhã mesmo (segunda-feira) vou procurar outro lugar para morar”, sorri. Aliás, o bom humor marca o drama da aposentada. “O que perdemos conseguimos recuperar. Graças a Deus tenho saúde e posso continuar trabalhando”, sentencia.
Para amenizar o sofrimento das famílias alojadas na escola Aurora Siqueira Jablonski, a diretora Anelize Huebner recrutou uma das merendeiras, que preparou o almoço de ontem para as famílias alojadas na escola. “Estamos fazendo o que é possível. Algumas famílias estão no ginásio e outras nas salas de aula”, destacou a diretora. Outra família alojada era do casal Carina Anton, 25 anos, e Alciomar Americano, de 29 anos. Junto a eles, os dois filhos Fabrício (10) e Cauã (8) comiam macarrão com carne e salada de repolho no refeitório da escola. “Conseguimos salvar pouca coisa. Alguns móveis tiramos, e outros tentamos erguer para a água não estragar, mas não sei se vai adiantar”, ressentiu-se Alciomar, que deixou a casa no bairro São Rafael às 4 horas da madrugada de domingo.