As ruas centrais de São Bento do Sul foram invadidas por gritos e cartazes com mensagens, imagens antimachistas e detalhes de casos de agressões. A caminhada foi realizada na última sexta-feira (25). Em São Bento do Sul, somente em 2016, já foram abertos mais de 270 inquéritos de violência contra a mulher.
A são-bentense Clara (nome fictício dado à vítima) faz parte desta estatística. No anonimato, ela deu seu depoimento para A Gazeta com o objetivo de encorajar outras mulheres a denunciar estes casos.
Quando conheceu o seu marido, ela acreditou que iria encontrar um companheiro, mas, na verdade, achou um oponente que lhe pregou o medo e ainda deixou marcas de violência doméstica. “No começo, quando namorávamos, ele já demonstrava ter um gênio difícil. De tanto ele insistir, resolvi dar uma chance”, revela.
Assim que o segundo filho nasceu, há 10 anos, as ameaças foram crescendo. “No início, era só agressão verbal. Depois, comecei a sofrer todos os tipos de violência. Além de agressões físicas, sou ameaçada constantemente de morte”, conta. Até agora, foram oito celulares e seis telefones fixos quebrados.
Clara já registrou oito boletins de ocorrência na Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCAMI) de São Bento do Sul. No último, aliás, ela poderia ter adquirido uma medida protetiva. “Acabei não aceitando porque acreditava que a situação poderia ser resolvida de outra forma”, relata.
O tempo passou, mas ele não apresentou sinais de melhora. As lágrimas, então, deram lugar à vergonha por ter apostado, novamente, que a situação iria se restabelecer. “Agora, parece que ele surtou de vez. Ele não aceita a separação, não sei se tem ciúmes ou não quer dividir os bens. Tenho uma casa bonita, um carro, mas vivo um inferno dentro de casa. Às vezes é melhor não ter nada e viver feliz”, diz.
As marcas das agressões também doem em seus filhos. “Ainda dividimos o mesmo teto. Não temos um diálogo e durmo com meus filhos, de porta trancada. O problema é que ele não aceita o meu silêncio e sempre tenta puxar briga”, declara.
A história de Clara, assim como de muitas mulheres, pode ter um fim. Ela já contratou uma advogada para determinar o melhor caminho a seguir. “É preciso tirar forças para se libertar. Espero, pelo menos, que o meu depoimento aflore a mente e encoraje outras mulheres a denunciar”, encerra.