Ao se olhar para o rio Negrinho agora, em seu leito, é difícil acreditar que, há duas semanas, ele estava nove metros acima de seu nível normal. Porém, as marcas deixadas em construções, árvores e postes − que ajudam a dar noção do volume de água que castigou a cidade − aos poucos, vêm sendo cobertas com muita água, sabão e tinta, num ciclo normal de reconstrução de Rio Negrinho. Mas o mais difícil será apagar da memória da comunidade de 40 mil habitantes os estragos materiais e emocionais que deixou a terceira maior enchente da história da cidade.
Na rua Jorge Zipperer, no Centro, vários comércios seguem com suas portas cerradas. Outros sequer portas têm para fechar, já que a força e pressão da água estourou muitas vitrines e portas de vidro. Na Mamãe Coruja, a menos de 15 metros do rio Negrinho, as empresárias Bernadete e Guilhermina dos Santos ontem aproveitavam para lavar o chão e organizar as prateleiras, que, em breve, receberão as roupas infantis, salvas horas antes da água tomar conta da loja. “Inauguramos a loja naquele dia”, conta Guilhermina. As perdas ficaram mais na decoração, fiação elétrica, vidros e no toldo da loja. “Mas também estamos tendo prejuízo em ficar com a loja fechada”, completa Bernadete, dizendo que a previsão é reabrir o comércio apenas na primeira semana de julho.
Agricultura afetada em R$ 8 milhões
Não foram só os setores comerciais e industriais os afetados em Rio Negrinho. O setor agrícola, apesar da pequena representação na movimentação econômica, também sofreu um duro golpe. “Só não foi pior porque era entressafra”, explica o secretário de Agricultura da cidade, Marcos Ribeiro. Levantamento aponta prejuízos de R$ 8.894.600 no setor. Entre as áreas afetadas, está a produção de hortaliças, com perdas de 30 toneladas, e a de leite e aves, com perdas estimadas em 24 toneladas. Somam-se ainda aos prejuízos estragos em pontes e estradas, que levam às propriedades.
Má-fé obriga mudança na distribuição das doações
Muitas pessoas, que nem tiveram suas casas atingidas pelas chuvas, estavam buscando roupas e alimentos no Pavilhão dos Imigrantes. Clique aqui para ler.
Mesma sorte não tiveram outros empresários. Adilson Denk ontem acompanhava o reparo em uma das máquinas da Denk Indústria de Móveis, localizada no bairro Quitandinha. No local, pouca coisa foi salva da enchente. “Perdi uns 80% das peças prontas. Da madeira que estava aqui, uns 20% dará para reaproveitar”, informa. Além do prejuízo nos materiais – estimados em mais de 150 metros cúbicos em madeira –, máquinas, empilhadeiras e até mesmo caminhões ficaram embaixo da água, a qual atingiu quase 2,5 metros de altura dentro galpão. A soma dos estragos ultrapassa os R$ 300 mil. “Agora queremos colocar o quanto antes as coisas em ordem e retomar a produção”, estima o empresário, que emprega atualmente 20 pessoas, das quais apenas seis estão trabalhando. “Os demais estão aguardando. A ideia é não dispensar ninguém, temos férias para dar e vamos aproveitar”, explica Denk.
Os prejudicados também doam
De sua produção atingida pelas águas, grande parte era de cadeiras e mesas e, como não houveram grandes danos, estão sendo doadas a famílias que perderam tudo na enchente. “Para o cliente não podemos entregar, mas elas ainda podem ser aproveitadas. Estamos dando para quem precisa”, informa o empresário. A empresa espera sair logo do galpão (alugado) onde está instalada. “Não dá mais para ficar aqui. Não sabemos quando poderá dar outra enchente”, alega. Para isso, já solicitou apoio da Prefeitura, seja mediante doação de um terreno, ou no aluguel de outro galpão. “Minha ideia é construir um local próprio, até já estamos elaborando o projeto, pois é difícil encontrar um galpão do jeito que precisamos aqui em Rio Negrinho”, prevê.