“Tem um animal aqui na minha casa. Você consegue vir resgatar?” Essa é uma das perguntas que o bombeiro comunitário e médico veterinário Stanley Viliczinski mais recebe em seu celular. As mensagens são diárias e não têm horário para chegar – podem vir a qualquer momento, até de madrugada. Afinal, ele é conhecido por muitos como o protetor dos animais silvestres. Ele já resgatou de tudo: de gambás – os mais comuns – até cobra-píton. E a rotina não para.
Quando A Gazeta esteve em seu consultório, situado no bairro Serra Alta, ele recebeu dois pedidos de resgate na mesma hora: um em Corupá e outro, de um passarinho machucado, no bairro Cruzeiro. Logo em seguida, ele entrou em sua caminhonete e foi buscar os bichos que precisavam de ajuda. Ao chegar ao local, ele analisa a situação. Se o animal resgatado estiver saudável, ele o encaminha para um local apropriado para a soltura.
Porém, se estiver machucado, leva-o ao consultório para realizar o tratamento veterinário. Já em casos mais complexos, como na reabilitação na natureza, Stanley os envia para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS), localizado em Florianópolis. Mas, na região, Stanley não trabalha sozinho. Ele tem parceiros, como o Corpo de Bombeiros Militar, a Polícia Militar Ambiental de Canoinhas e a própria Polícia Militar, que também realizam os resgates quando acionados. No entanto, se o bicho estiver machucado, será levado para Stanley. Afinal, ele é o único médico veterinário especializado em animais silvestres autorizado pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA) de Santa Catarina a exercer a função de resgate na região.
Animais silvestres
Cobra, lagarto, ouriço, aves, quati: esses são apenas alguns dos muitos animais resgatados por Stanley nos 25 anos em que realiza salvamentos. Algo que ele reforça é que faz o resgate apenas de animais silvestres, ou seja, animais domésticos, como cães e gatos, não fazem parte da demanda. E haja demanda. O número de pedidos aumentou, mas isso se deve a dois fatores. O primeiro está relacionado ao fato de que, hoje, mais pessoas conhecem seu trabalho. O segundo é que, com a expansão urbana, o contato com os habitats naturais tem aumentado, o que resulta em mais animais silvestres em áreas urbanas. Assim, o contato com os seres humanos torna-se inevitável.
Inclusive, há situações em que os animais não precisam ser resgatados, e uma simples orientação é suficiente. Durante o calor, por exemplo, é comum Stanley receber chamados para retirar lagartos das casas. O réptil é considerado um animal sinantrópico, ou seja, aprendeu a conviver com as pessoas. Ele também tem um papel importante no controle ambiental, pois onde há lagartos, algumas pragas não aparecem. O conselho de Stanley, caso aviste o animal – e ele não estiver machucado –, é evitar o contato com animais domésticos. “Sempre o animal silvestre vai levar a pior”, explica.
Em relação às cobras, as espécies mais comuns encontradas na região são a espada e a cipó, ambas não peçonhentas. No entanto, a cobra-espada é frequentemente confundida com a jararaca, o que gera solicitações de resgate. Quando ele as recolhe – assim como outros animais –, realiza a soltura em áreas específicas da região, mas prefere não divulgar os locais para evitar que caçadores se dirijam até lá.
Outro conselho que ele dá é simples, mas o erro ainda é comum: não tente pegar o animal silvestre. Primeiro, isso pode deixar o bicho assustado e estressado e, em casos como o das cobras, pode fazê-lo atacar para se defender. “Além de ser crime ambiental manipular animais silvestres, eles vão morder e podem transmitir doenças. Deixa o animal seguir o caminho dele”, afirma.
Outro ato que não é permitido é alimentá-los. Como menciona Stanley, ao fazer isso, estará estimulando o animal a não procurar seu próprio alimento, o que pode torná-lo dependente e interferir no ciclo natural da espécie. Um caso atendido por ele, há alguns anos, envolveu um grupo de pessoas que estava alimentando um bugio. Com o tempo, o macaco se tornou dependente e, quando os indivíduos deixaram de alimentá-lo, ele começou a ficar agressivo, causando problemas para os moradores.
Encontrei um animal. E agora?
Uma das dúvidas mais frequentes de quem aciona o resgate é se há algum valor a ser cobrado. A resposta é não: o serviço é gratuito. Os custos são arcados pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA). Basta entrar em contato com o médico veterinário pelo número (47) 99652-7394, informar sobre o animal, e ele realizará o resgate assim que possível. Também podem ser acionados a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar e, caso o animal esteja machucado, as instituições o encaminham para Stanley.
É importante destacar que Stanley não trabalha com a apreensão de animais silvestres. Essa função não é de sua responsabilidade. Caso alguém queira fazer uma denúncia, deve fazê-lo por meio da Polícia Militar Ambiental, do site da Ouvidoria do Estado de Santa Catarina ou por um boletim de ocorrência na Polícia Civil.
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