Para muitos, o xadrez é uma das modalidades mais complexas, exigindo raciocínio lógico, estratégia e controle emocional para se tornar um campeão. Embora os desafios sejam muitos, no município, um nome vem se destacando em competições a nível nacional: Henrique Gabriel dos Santos.
O são-bentense de 18 anos vem colecionando vitórias importantes, sendo a mais recente na terceira etapa da Copa Brasil de Deficientes Visuais, em Belém do Pará, onde foi o vencedor. No ano passado, ele conquistou, de forma inédita, o prêmio de campeão brasileiro, em São Paulo, na categoria Juvenil, reunindo os melhores enxadristas do país com menos de 21 anos de idade.
Porém, apesar de estar marcando seu nome na história do xadrez são-bentense, ele ainda é modesto, sempre afirmando que precisa melhorar suas técnicas. Inclusive, foi justamente de forma tímida que começou na modalidade, quando tinha apenas 8 anos, aprendendo a jogar sozinho de forma virtual.
“Toda vez que mexia no computador do meu pai, eu jogava. Na época, não sabia nada, mas fui aprendendo o movimento das peças”, menciona.
Depois, o que era apenas um passatempo de criança foi se tornando cada vez mais sério. Na escola, Henrique jogava contra colegas e até mesmo contra os professores, mostrando que seu talento com as peças estava se aprimorando cada vez mais. A paixão foi crescendo, e Henrique pediu aos pais, Salete e Carlos Alexandre de Lima, para participar de campeonatos. Na época, o dinheiro era curto, e a família não tinha condições de inscrever o filho em provas maiores. No entanto, após um pedido de presente de Natal, no qual o jovem queria um tabuleiro ou livro de xadrez, a mãe entrou em contato com Sirlene Rocha, da Associação dos Deficientes Visuais (ADV). Com isso, Henrique começou a jogar com outras pessoas do município, o que até mesmo serviu para seu treinamento.
“Melhorei muito nessa época, comecei a jogar com pessoas mais fortes”, recorda. Durante a pandemia, participou da sua primeira prova, ficando em 11º lugar, o que lhe deu ainda mais motivação para continuar a praticar xadrez.
Superando barreiras
Henrique foi diagnosticado com hidrocefalia e baixa visão, condição causada pela toxoplasmose, infecção que a mãe contraiu ainda no final da gestação e que afetou sua visão. “Deu cicatriz na retina, e por consequência, a visão foi piorando com o tempo. Agora estabilizou, mas se por acaso a doença se manifestar, ele pode perder de vez. Ele poderia ter nascido com um caso muito pior, poderia não andar, o dele foi só no olho”, explica a mãe.
Quando tinha apenas um ano de idade, já precisava utilizar óculos. Além disso, quando criança, frequentou a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) para atendimento fonoaudiológico. “Ele não falava”, conta. Depois, quando começou a frequentar a escola, seu desenvolvimento foi notável, sempre estando entre os melhores da sala de aula.
Prova disso é seu talento no xadrez, considerado um “esporte mental”, que contribui para o desenvolvimento pessoal e intelectual. Quando está treinando, Henrique joga em tabuleiros normais, mas em competições, ele utiliza um tabuleiro adaptado, com características específicas para deficientes visuais.
Menino de ouro
No início, Henrique treinava com os amigos da ADV. No entanto, após perder algumas partidas no final do Campeonato Brasileiro do ano passado, ele decidiu buscar conselhos com o treinador Eduardo Sperb, da equipe de xadrez da Fundação Municipal de Desportos (FMD). “Ele falou para eu vir treinar, para não cometer tantos erros bobos, mas depois que comecei a treinar, realmente melhorei bastante”, diz. Apesar de hoje ser um atleta de xadrez, no ano passado ele já havia treinado com Sperb, embora fossem poucos os encontros.
Agora, neste ano, Henrique vem participando das etapas classificatórias da Copa Brasil para Deficientes Visuais. A última ocorreu em Belém do Pará, garantindo a vitória na categoria Juvenil, além de ter ficado em quarto lugar na categoria Absoluto. No final de setembro, ele retornará para a quarta etapa, em Fortaleza. Graças aos ótimos resultados acumulados ao longo das competições, sua vaga para a grande final do Brasileiro, que acontecerá em novembro, em Brasília, está praticamente garantida. Lá, ele tentará conquistar o título de bicampeão, após ter vencido na categoria Juvenil no ano passado.
“Ele é bem curioso e aplicado, tem muito talento, uma habilidade que dá para explorar bastante. Pelo menos em três anos, quero que ele seja o melhor do Brasil e sei que ele tem essa condição para isso”, encerra o treinador. E, para continuar representando o município em outras competições, a família pede o apoio da comunidade por meio de patrocínios. Interessados podem entrar em contato através do (47) 9 9665-3363.
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