Faça uma reflexão com sinceridade. Quando você está na frente do computador, da televisão, lendo o jornal ou ouvindo o rádio, quais são as notícias que mais prendem sua atenção: um acidente de trânsito ou uma história de superação de vida? Um caso de maus-tratos ou um projeto inovador de educação?
Se você ficou com as primeiras opções, não se preocupe, você não é o único. Das 30 matérias mais acessadas no site do jornal A Gazeta, todas são referentes a alguma tragédia, seja acidente, assassinato ou desastre natural.
O que vou ganhar com isto?
Outro ponto destacado pela profissional é a necessidade de se estar informado sobre uma situação que todos estão comentando. “Se eu não estiver informado, não terei o que falar”, relata, questionando o quanto isso é positivo ao dia a dia da população. “É preocupante, seria bem mais importante estas pessoas fazerem uma autoanálise do que estão ganhando com isso, do que isso está trazendo de positivo para as suas vida”, diz.
Idelaide lembra que nós somos feitos daquilo que absorvemos diariamente, daí a importância de buscar coisas saudáveis para o nosso dia a dia. “São as nossas crenças e escolhas que nos levam adiante. Depois a pessoa acaba deprimida, com problemas no trabalho ou na faculdade, porque, quando está socializando, está apenas vendo coisas negativas, que vão reprimindo e abalando psicologicamente”, diz, e completa. “Você é aquilo que pensa, se você pensa coisa positivas, irá atrair coisas positivas, agora se você só tem foco para negatividade e tristeza, é isso que irá atrair”, marca.
Tragédia na rede
Número de acessos as matérias no em nosso site refletem a busca pela tragédia na internet. Na lista das 30 mais acessadas, apenas duas não são de acidentes. No entanto, estas duas são da enchente que castigou a região em junho. Já entre as dez mais lidas, todas são relacionadas a mortes e acidentes.
A psicóloga Idelaide Forteski destaca que, dentro da psicologia, existem várias interpretações para a preferência da população por informações que tenham alguma conotação trágica. E a profissional destaca um destes possíveis motivos, a sensação de que a sua situação pessoal poderia ser pior. “De repente, a pessoa está passando por um momento desagradável e desconfortável e, ao ver uma notícia ruim, uma tragédia, ela acaba percebendo que existem pessoas que estão sofrendo mais do que ela nesse momento, não deixa de ser um conforto no seu momento de sofrimento”, diz.
Proximidade que assusta
Recentemente, uma série de acidentes automobilísticos tem chamado atenção da imprensa local e provocado a curiosidade da população. A psicóloga Sandra Lopes contextualiza esse interesse pelo tema. “Isso nos faz refletir, a violência está aí e, quando se vê o fato acontecendo, isso gera uma reflexão. Até então estamos tranquilos, vamos vivendo sem se preocupar com a morte, agora, se acontece um fato próximo, nós passamos a prestar mais atenção nessas situações”, relata.
No caso específico do acidente das 27 curvas, que acabou vitimando seis pessoas, houve ainda uma revolta por parte da população nas redes sociais, com diversas ameaças e xingamentos ao condutor do veículo que supostamente ocasionou o acidente. A psicóloga explica que as pessoas − por instinto − agem de forma agressiva quando se sentem ameaçadas. “Quando acontece uma tragédia, as pessoas querem informações e, se essa fatalidade ainda traz algo que é considerado inaceitável, as pessoas reagem”, relata Sandra.
Porém, a profissional lembra que essa “revolta” geralmente tem prazo de validade, quando tratam-se de pessoas que não estão realmente envolvidas no caso, como familiares e amigos próximos. “Há uma comoção. Mas, se você perguntar daqui a um mês, as pessoas vão falar de uma outra forma sobre o mesmo assunto, pois já passou um período de reflexão. Não terá mais aquela mesma emoção”, frisa.
Quanto ao interesse maior por assuntos relacionadas a acontecimentos ruins, Sandra reforça a necessidade que a população tem de querer sempre ter mais detalhes quando se trata de uma tragédia. “As pessoas querem saber como as coisas aconteceram, a nossa tendência é de se proteger”, diz e explica. “Se você me conta detalhes sobre o problema, eu posso me proteger e tomar uma atitude para tentar evitar que aconteça novamente”, completa.
