Considerando a realidade brasileira com relação à destinação e ao aproveitamento do lixo, uma revolução silenciosa está se desenhando em São Bento do Sul. Com recursos próprios de R$ 5,64 milhões, o Samae pretende promover uma mudança radical, praticamente inédita no País, no campo dos resíduos sólidos domiciliares.
Atualmente, o aterro sanitário municipal – localizado no bairro Rio Vermelho Estação – recebe cerca de 40 toneladas de lixo diariamente, de segunda a sábado, ou aproximadamente 240 toneladas por semana. A contratação de equipamentos tecnológicos vai permitir, segundo a autarquia, uma redução considerável desse montante, que pode cair para até quatro toneladas diárias. Isso mesmo. Impressionantes 90% a menos.
Entenda o processo
Na prática, vai ocorrer o seguinte, conforme a licitação. O lixo comum, que é recolhido pelos caminhões da coleta, não será mais levado ao aterro, como ocorre hoje, e sim a um galpão, para processamento. No local, inicialmente, funcionários vão fazer uma breve triagem, para separação de itens como vidro, metais e restos de construção, entre outros. Na sequência, máquinas automatizadas vão dividir os resíduos restantes entre materiais orgânicos e sintéticos.
Os materiais orgânicos, tais como restos de alimento, restos de podas do jardim e papéis, serão encaminhados para um biodigestor, para serem transformados em biogás – que, por sua vez, vai movimentar um gerador de energia elétrica. A eletricidade gerada será injetada na rede da Celesc, abatendo o valor correspondente da fatura mensal de energia elétrica do Samae.
Já os itens sintéticos, como sacolas plásticas, tecidos, couro e isopor, por exemplo, vão ser processados por tritura. A massa resultante, então, será encaminhada a uma estufa de secagem, e, por meio de moldes, serão criados diferentes produtos. Inicialmente, o Samae vai dar preferência à fabricação de pavers e meios-fios. As opções, porém, são inúmeras: tijolos, vasos, palanques, etc. Não será necessária a adição de produtos químicos. Ou seja, a matéria-prima será apenas o próprio lixo.
As máquinas serão dimensionadas para atender a demanda diária de lixo em São Bento do Sul, no caso, 40 toneladas. Segundo o presidente do Samae, Fridolino Van Den Boom, e o chefe de Divisão de Resíduos Sólidus Urbanos da autarquia, Paulo Schwirkowski, da chegada dos materiais na usina até a fabricação dos produtos bastarão algumas poucas horas. O Samae tem laudos atestando que os produtos não estão contaminados ao final do processo.
Economia futura
Os itens fabricados não poderão ser comercializados pelo Samae, que vai utilizá-los para suas próprias frentes de trabalho, como na implantação de calçadas, por exemplo. Os produtos também poderão ser utilizados por outros órgãos públicos, como a Empresa Municipal de Habitação (Emhab), para construção de casas populares.
De acordo com cálculos da autarquia, com a economia que será proporcionada – via redução da conta de energia elétrica, por exemplo –, em três anos e meio o investimento será pago. A partir de então, haverá redução de custos para o Samae. Isso sem falar que não será necessário comprar itens como pavers, tijolos, etc.