Vape, pod, pendrive. Ele pode ter vários nomes, mas a finalidade é uma só: causar mal à sua saúde. Proibido no Brasil desde 2009, o cigarro eletrônico pode ser encontrado facilmente em alguns comércios da cidade (mesmo que em salas escondidas). O problema é que esse tipo de dispositivo tem aparecido em locais onde não deveria, como a escola.
Por conta do aumento de casos de uso de vape entre os alunos, o Conselho Municipal de Políticas Públicas sobre Drogas (Comad) de São Bento do Sul, em parceria com a sociedade, iniciou uma forte campanha no município. “A gente tem articulado reuniões e, no mês passado, fizemos uma com a Vigilância Sanitária. Estavam eles, o Comad, Secretaria de Saúde, Secretaria de Educação e foi vista a importância de algumas ações pontuais e urgentes, porque hoje as escolas estão desesperadas. Os diretores entram em contato conosco porque todos os dias estão pegando o famoso cigarro eletrônico”, cita Jean Ricardo Sasse, terapeuta pastoral do Cerene e presidente do Comad.
Por conta disso, o principal objetivo do conselho é chegar até os pais desses alunos. “A nossa ideia é mostrar aos pais, porque o adolescente está meio ‘cego’ e não consegue perceber o quanto está fazendo mal a si próprio. Quando a gente olha para um histórico, percebe que vem com o narguilé, que trouxe essa ideia do cheiro gostoso, fruta, colorido. O narguilé deu uma baixada e, de uns quatro anos para cá, surgiu o cigarro eletrônico”, explica Jean.
O surgimento do vape, inclusive, veio como um possível substituto ao vício pelo cigarro, o que não ocorreu. “Isso caiu por terra logo no início porque a indústria percebeu que era um mercado gigantesco e o jovem começou a fazer uso. No Brasil, a gente não sabe o que estamos usando quando falamos em cigarro eletrônico, porque ele é ilegal. É uma droga ilícita, não tem regulamentação. O adolescente não sabe o que está fumando. Pesquisas trouxeram que existem inúmeros produtos químicos dentro daquela essência que gera aquela fumaça, como a gasolina”, ressaltou.
Denúncia 156
A estratégia do conselho é justamente alertar os pais para que denunciem locais onde o cigarro eletrônico é vendido. “Aquele pai e mãe que sabem que seu filho faz uso, sabem também onde ele compra. E essa compra é ilegal! Estamos fazendo uma movimentação grande na cidade para mostrar qual o caminho da denúncia para a Vigilância Sanitária. A vigilância só pode ir ao estabelecimento fiscalizar após uma denúncia, então a gente precisa estimular isso”, frisa Sasse.
A denúncia pode ser feita de maneira anônima pela ouvidoria através do número 156. “Fica o apelo do Comad. Essa denúncia passa pelo 156, que vai acionar a vigilância e pode fazer algo. O Comad apela à comunidade para denunciar! A gente quer que o jovem consiga enxergar o quão mal faz o cigarro eletrônico”, enfatizou o presidente.
Porta de entrada
Vivenciando o cotidiano no Cerene e trabalhando com a recuperação de dependentes químicos, Jean afirma que o cigarro tem sido a principal porta de entrada para outras drogas. “Hoje temos 50 acolhidos no Cerene e nenhum deles começou usando crack. Todos começam com o cigarro, com o álcool. Com certeza, o cigarro é uma porta de entrada. O adolescente é muito influenciável e essa influência nunca começa com as drogas pesadas, começa com as drogas leves”, disse.
O vape, segundo Jean, é um malefício por si próprio e o jovem, por muitas vezes, não consegue enxergar isso. “O adolescente vive muito o momento e não consegue olhar um pouco para frente”, citou. “É algo pequeno e portátil, às vezes os pais nem percebem. O jovem quer essa praticidade, tem que ser rápido e fácil”, completou.
Conforme a Associação Médica Brasileira (AMB), o cigarro eletrônico contém nicotina e mais de 80 substâncias químicas, incluindo cancerígenos comprovados. Seu uso aumenta o risco de trombose, AVC, hipertensão, infarto e outros. “O tabaco queima o pulmão, mas o vape, com tanto produto químico, frita o pulmão. Ele é produzido 100% em laboratório, é química pura!”, explica Jean.
Prevenção nas escolas
Além disso, o Comad está organizando estratégias de prevenção dentro das escolas a partir do próximo ano. “Queremos falar sobre influência, bullying, emoções, sentimentos, família. São temas importantes para o adolescente e, quando ele for influenciado, pode pensar um pouco fora da caixa. A gente pensa em construir projetos que vão desenvolver habilidades de vida nos adolescentes e crianças nas escolas”, frisa Sasse.
Os projetos já estão alinhados com a Secretaria de Educação e o conselho busca agora por recursos para colocá-los em prática. “O Comad tem esse plano de ação que é promover a prevenção nas escolas. Precisa ser um programa, algo contínuo, com foco nos alunos do oitavo, nono e primeiro ano do ensino médio. Isso já está no nosso horizonte”, cita o presidente.
O ponto norteador, segundo Jean, é justamente a falta de referência para esses jovens. “Vivemos uma época com falta de referências positivas. O adolescente precisa de uma referência, aquele ponto em que ele se espelha. Aí hoje ele fica 20 horas do dia no celular, no TikTok ou Instagram, e os influencers que temos nas redes sociais são as influências do adolescente. E são essas influências que estão levando ele para um mau caminho”, concluiu Jean.
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