Ouviu-se e leu-se muito há poucos dias quanto à liberação de emendas parlamentares para deputados federais votarem a favor do presidente Michel Temer (PMDB) e arquivarem o pedido de investigação contra ele. Falou-se e leu-se muito também sobre exonerações de indicados por deputados que teriam sido contrários ao presidente. Em resumo, foi a máquina pública sendo usada em benefício do governo federal.
Mas engana-se quem acha que isso só ocorra em Brasília. Não é preciso sair de São Bento do Sul para ver situações semelhantes acontecendo. O sistema político brasileiro foi construído de uma forma em que a maioria não é conquistada pela convicção e pelo desejo de fazer o melhor para a comunidade. Ela (a maioria) é comprada em um verdadeiro balcão de negócios com dinheiro público. Especialmente por pressão de partidos menores que garantem seu “apoio” em troca de cargos. Ou seja: quem quer rir; tem que fazer rir.
Tudo já começa quando alguém assume a presidência de partidos nanicos, os populares “partidinhos de aluguel”. A primeira ação a ser feita é garantir para o próprio presidente, seus familiares e outros dirigentes – geralmente dois ou três gatos pingados -, uma boquinha na administração pública. A partir daí, então tentam garantir mais “espaço” para outros mais.
“Tudo já começa quando alguém assume a presidência de partidos nanicos, os populares ‘partidinhos de aluguel’. A primeira ação a ser feita é garantir para o próprio presidente, seus familiares e outros dirigentes”
Querem cargos, preferencialmente, os de maiores salários, sabendo que os acordos acabam valendo mais do que a competência dos indicados. Normalmente não existe mérito pela conquista ou tampouco experiência para dar continuidade aos trabalhos desenvolvidos por prefeituras, por exemplo.
Felizmente não se pode generalizar, pois existem, sim, pessoas em cargos comissionados de extrema competência e experiência em seus ramos de atividade. Porém, como é de praxe, tudo acaba indo para a vala comum e os bons pagam pelos maus. Aqui em São Bento do Sul também é assim.
O problema é que muitas vezes a ânsia por garantir uma colocação nestes cargos não respeita nada nem ninguém, especialmente quando envolvem os chamados “acordos políticos”. Aí o que vale é quem indica e não quem é o indicado. Aqui cabe parênteses. No caso de prefeituras, não há modelo que funcione se forem só utilizados servidores efetivos para funções de primeiro escalão. Os – literalmente falando – “de confiança” são necessários e imprescindíveis. O problema é quando quem confia e escolhe não é quem deveria ter esse papel.
Reflexo disso pode-se ver no dia a dia. Existem diversos secretários municipais em São Bento do Sul com extrema competência para aquilo que foram chamados a exercer, mas nenhum deles pôde escolher a própria equipe. Resultado é que alguns acabam não desempenhando com eficiência seu papel porque acabam tendo de fazer o serviço de diretores indicados por partidos que não sabem nem por onde começar a agir. Existem pessoas com talento e competência, mas que acabam sobrecarregadas pela inoperância dos que o cercam.
Novamente aí volta-se a velha questão: as coligações e a busca por apoios geram maioria nas Câmaras; sem isso, prefeitos acabam de mãos atadas quanto a projetos importantes. Viu-se, por exemplo, na gestão passada o quanto o trabalho de oposição na Câmara de São Bento do Sul mudou os rumos do que era pensado pelo então prefeito. Se eram ideias boas ou não; se fizeram bem ou não os vereadores, isso não se discute, mas demonstra tão somente o quanto “a maioria” é importante no processo político.
Ainda no ano passado viu-se um tremendo bate-boca em um partido político de São Bento do Sul porque o então presidente “garantiu apoio” da sigla ao governo da época, foi nomeado na sequência em um cargo de alto escalão para garantir este apoio, quando então houve uma revolta dos demais integrantes da sigla que não aceitavam aquela decisão. Resultado: foi feita convenção, o então presidente perdeu, o partido apoiou o atual governo e o ex-presidente foi destituído.
Só que mais uma vez engana-se quem acha que a questão foi por ideologia. Basta ver o portal da transparência da Prefeitura para ler os nomes dos mesmos que se rebelaram da vez passada.
Mas nada é tão irritante quanto às desculpas que estes partidos pequenos dão para pedirem cargos. Justificam que querem os cargos para poder colocar suas ideias em prática. Pura balela, afinal, eles não têm, de fato, a caneta. Não mandam nada.
Se quisessem mesmo colocar ideias em prática, primeiro de tudo fariam a lição de casa, fortalecendo o partido, buscando gente capaz de elaborar bons planos de governo, criar boas nominatas e então partir para a disputa do voto, vencendo uma eleição. Aí sim teriam oportunidade de colocar suas ideias em prática como alegam.
Quando se fala em barganhas com cargos comissionados ainda é possível ir além. Em São Bento, tem filho trabalhando na Prefeitura e pai na Câmara de Vereadores. Tem ainda o troca-troca entre cidades, como o caso da irmã do prefeito de Rio Negrinho que trabalha em São Bento; e em contrapartida tem familiar de secretário atuando na Prefeitura rio-negrinhense. Quando não maridos e esposas sendo manobrados de um lado para o outro.
Práticas como estas deveriam acabar. Coligações não deveriam existir, em hipótese alguma. Se quer disputar uma eleição, que os partidos se fortaleçam e montem suas próprias equipes para isso. Se não tiver gente, caso eleito, para montar um time, que chamem os adversários políticos para compô-lo, afinal, competência não se discute e existem pessoas competentes em praticamente todos os partidos.
Monta-se um time eclético partidariamente falando, aí é um conceito totalmente diferente, pois quem ganhou a eleição está indo em busca de quem entende ser competente para tal função. Diferente das imposições de partidos menores, as quais muitas vezes ignoram por completo a competência.
Infelizmente o sistema político brasileiro é assim, mas é preciso colocar um freio urgente nisso. Cargos públicos não podem ser negociados, barganhados em troca de apoio. Devem ser ocupados por pessoas de competência para a função que foram chamadas. Isso ocorre em Brasília, em São Paulo, na Bahia, no Acre e, infelizmente, em São Bento do Sul e região.
Editorial de A Gazeta publicado na edição impressa de fim de semana (16 e 17 de setembro).