Domingo, 27 de abril de 2025

Dono de livraria fala sobre novos hábitos de leitura e conta sua história com a literatura

Há 20 anos trabalhando no ramo de livraria, Antônio Kremer acompanhou as mudanças

• Atualizado 24 dias atrás.

Seja por meio das obras de Harry Potter, Senhor dos Anéis ou até mesmo pela própria Bíblia, todos nós já passamos os olhos atentos em algum livro. Com o tempo cada vez mais escasso para o lazer, o hábito da leitura se perdeu com o passar dos anos, mas ele ainda resiste. Conforme Antônio Kremer, proprietário da livraria Dom Quixote, a ideia de criar um espaço de venda de livros surgiu no começo dos anos 2000, quando ele e sua então sócia decidiram vender as próprias obras de maneira online. “A livraria começou de forma virtual em Jaraguá do Sul. A gente começou vendendo basicamente nossos próprios livros. Eu tinha um acervo grande em ciências sociais, filosofia, sociologia e comecei com meus livros. Criamos um site e vendíamos por lá, mas já imaginava criar uma livraria de usados”, explica.

Com o objetivo de expandir as vendas, Kremer conta que fez uma pesquisa de campo e descobriu que havia apenas uma livraria e nenhum sebo em São Bento do Sul. “Decidimos então montar a livraria física aqui. Começamos com uma salinha ao lado e basicamente com os livros usados. Aos poucos fomos incorporando os livros novos”, disse. Hoje o acervo conta com aproximadamente 8 mil livros e cerca de mais mil deles a cadastrar em estoque.

Para Antônio, a mudança na procura por livros foi perceptível em dois momentos bem específicos. “Existe uma pesquisa no Brasil, feita há bastante tempo, que indica que a quantidade de leitores no país está estabilizada em 15%. Isso não mudou em São Bento do Sul. Minha experiência pessoal com a cidade indica que, a partir da pandemia, a quantidade de pessoas que compram livros aumentou. Foi uma época que não podia ir à biblioteca, era mais complicado, aí começaram a comprar online de nós e depois a frequentar aqui. Houve um incremento na quantidade de rostos novos. Depois, outro momento foi por ter fechado algumas livrarias na cidade, quando os livros novos foram colocados aqui, aí houve um incremento daqueles que buscam as novidades”, ressalta.

Do mais velho ao mais novo
Engana-se quem pensa que os jovens não possuem o hábito da leitura. “Muita gente comenta que os jovens não leem mais, que só ficam na internet. Essa informação não é correta. Os jovens proporcionalmente leem mais que os adultos. Desde que vendo livros, eu percebi isso. Eles podem se valer da internet para tomar conhecimento da obra”, frisa Kremer.

O público que frequenta a livraria, conforme o proprietário, busca pelos mais variados tipos de livros. “Os jovens e as mulheres buscam mais pela literatura. As mulheres leem mais literatura e os homens mais a literatura como desenvolvimento pessoal, obras de história ou economia. É uma leitura mais utilitária, principalmente depois de formados e construindo a vida. Já para os jovens e as mulheres é uma relação de paixão pela leitura e pela literatura. Isso não significa que você não vai encontrar homens procurando Tolstói ou mulheres procurando um Comece Pelo Porquê, mas predomina esse cenário”, explica o livreiro.

Há quem prefira o e-book
Tendência há alguns anos, os chamados e-books, ou livros virtuais, são os preferidos de uma pequena parcela da população. “O livro digital, quando chegou, foi um fenômeno parecido em vários países. Há uma curiosidade inicial maior e rapidamente ele chega a 12% ou 15% da população, dependendo do país, mas depois volta e fica na casa dos 10%. A experiência de leitura é diferente”, diz Antônio.

O empresário cita também uma pesquisa feita por neurocientistas belgas, que analisaram as atividades cerebrais durante a leitura de um livro físico e de um livro digital. “Durante a leitura do livro físico o cérebro ativa regiões relacionadas ao pensamento profundo e às reflexões. No livro digital ainda não há isso. A hipótese de trabalho desses cientistas é que, como o livro faz parte da nossa vida há milênios, nosso cérebro está mais adaptado a esse tipo de suporte. E as pessoas percebem isso, que a experiência de leitura é diferente”, enfatiza.

Ler e escrever
Para Antônio, ler um livro é poder viajar sem sair do lugar. “Ao ler um livro, você pode viajar no tempo e no espaço, para épocas e lugares diferentes ou mundos que não existem, como em O Hobbit e Guerra nas Estrelas. Essa é a beleza da literatura, ela te transporta no tempo e no espaço de onde você está. Pode estar no parque lendo um livro cuja história se passa na Inglaterra da época vitoriana, os usos e costumes daquela época que o autor ou autora consegue transmitir para você. Ao mesmo tempo, ao conhecer diversos lugares e épocas, isso aguça seu olhar para o presente. A forma como você olha o presente é diferente porque você tem uma base comparativa. Uma pessoa que vive em São Bento do Sul há anos e nunca teve a oportunidade de viajar pelo mundo, mas teve a oportunidade de viajar pelos livros. Isso muda a forma como ela vai avaliar as pessoas. É diferente o olhar”, comenta.

A leitura também pode despertar novos autores, que passam a criar cenários diferentes para suas obras. “O escritor nasce do leitor e principalmente daquele leitor que começa a imaginar cenários e possibilidades daquela apresentada pelo autor do livro. A partir disso, a percepção e a imaginação desse leitor transbordam a leitura. Provavelmente ele vai sentir a necessidade de criar seus personagens e suas histórias, imaginar alternativas”, diz. “A escrita não é só inspiração, ela precisa te encontrar com o papel e a caneta ou no teclado. Ela é rotina, como ser leitor é rotina. Precisa ter seu horário quando vai sentar e refletir sobre aquilo que quer contar e ir escrevendo. Todo dia, o tempo que tiver disponível. Ao criar rotina, uma história vai se delinear automaticamente. Escrever é reescrever e esse é o processo”, conclui Kremer.


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