Nesta sexta-feira (08) é comemorado o Dia Internacional da Mulher, uma data especial em celebração a todas elas. E para marcar a data, A Gazeta traz a história de duas mulheres com muita força e coragem que seguem na lida do campo. Miriam Wrublevski é uma dessas mulheres de destaque.
Além de agricultora, ela é empreendedora e largou o mundo corporativo para se dedicar ao campo. “Eu tenho 40 anos e sou agricultora há quatro anos. Fui uma criança que sempre gostou de plantas e da terra. Nascemos na cidade e foi meio que uma vida trabalhando na cidade para um dia conseguir ter uma terra. E quando você tem uma terra, você descobre que não é dono dela, é a terra que é sua proprietária. A gente serve à terra”, conta.
Em uma propriedade na localidade de Rio Natal, Miriam cultiva diversos tipos de banana, como a banana-pão, banana-prata, banana-nanica e a banana tutti-fruti, uma novidade na região. “As frutas são o motivo de estarmos ali. Uma vez que a gente experimenta frutas doces e gostosas, muda a nossa percepção”, explica.
Ela conta que descobriu a possibilidade de plantar e compartilhar as frutas, mas que não encontrava um meio de comercializar e distribuir isso de forma eficiente. “Então começamos com o aplicativo Quintal, e na época não tinha nenhuma plataforma digital de venda de orgânicos ou itens agroecológicos, nem a certificação orgânica dessa propriedade. Depois, com um grupo de certificação de São Bento, fomos convidados a fazer uma feira de autoatendimento (no LabTree), que é o local onde distribuímos as frutas”, frisa.
Tudo vale a pena!
Questionada se valeu a pena trocar de profissão, já ela ela atuava antes na área comercial, sendo 14 anos em uma empresa da região, Miriam não hesitou em responder. “Quando a gente está aqui no calor, num dia quente, e tem o desgaste físico, lembra das profissões que estão no ar-condicionado. A gente se pergunta se está certo o que está fazendo. Acho que todo mundo que deixou uma carreira e tentou outra profissão se pega questionando. Mas toda vez que vejo uma criança pedindo pelas frutas, passando a comer banana porque não gostava antes, toda vez que entrego uma fruta para uma criança eu tenho certeza que tudo vale a pena”, ressaltou.
Ela frisa que os produtos orgânicos não nos nutrem apenas como alimentos para cumprir espaços no prato, mas sim como fontes de nutrientes. “Por isso cada vez mais as pessoas vão precisar plantar orgânicos. Acredito que o futuro será orgânico, todas as plantações serão orgânicas. Não tem como explicar para os alienígenas que a gente coloca veneno na comida, tem coisas que não fazem mais sentido hoje”, comenta.
Sobre seu papel no campo, Mirim afirma que está cumprindo algo enraizado historicamente nas mulheres. “Faz parte da ancestralidade humana que os plantios, as sementes, sejam feitas por mulheres. Faz parte da nossa história. Quando estou aqui, não tenho diferenças entre homens e mulheres, estou cumprindo o papel que me foi dado. As vezes me questiono na questão física, mas quando trabalhava no mundo corporativo, praticava esportes e academia, via muitas mulheres rolando pneu no crossfit. Por que uma mulher não pode colher um cacho de banana de 30 quilos?”, indagou.
Uma jovem vida dedicada ao campo
Soliete Telma tem apenas 29 anos, mas trabalha no campo desde muito pequena. Moradora da localidade de Ponte dos Vieiras, ela atualmente cultiva morangos e pequenos frutos, como figos, amoras e framboesas, bem como o mel. Além disso, construiu uma pequena ponte sobre um local alagado, ergueu um rancho para ferramentas e também montou a própria estufa de morangos com ajuda da família.
Produtora rural desde pequena, Soliete conta que nasceu e cresceu em meio à criação de gado e da fumicultura. “Desde 2018 comecei com o cultivo de morangos. Hoje tenho cultivo de amoras, framboesas e figo também. Em 2018 meu pai decidiu encerrar o fumo e eu decidi mudar de ramo. Fiz um curso de jovens pela Epagri, em Canoinhas, e foi onde me encantei com cultivo de morango. Ali comecei com o cultivo semi-hidropônico, sem aplicação de agrotóxicos”, conta.
Além do plantio, a são-bentense começou a empreender para distribuir sua produção. “Iniciei a construção de um local para atender os clientes aqui na propriedade, tanto para quem quiser visitar futuramente como para vender”, disse. “Penso na qualidade do produto, na saúde. Tenho sobrinhos que podem vir aqui comer o fruto do pé sem preocupação nenhuma”, completou, falando sobre a importância dos produtos orgânicos.
Dia a dia no campo
Soliete afirma que ama seu trabalho e que começa o dia muito cedo. “Acordo todo dia às 6 horas, trato toda a bicharada e venho aqui na estufa. É saúde poder comer com qualidade. A gente trabalha em família, para mim isso é muito importante. E é prazeroso cultivar e ver o fruto crescendo”, ressalta.
Ela conta que muitas vezes se pega conversando com os animais ou com as plantas. “A agricultura é fundamental e muito importante, é daqui que vem o alimento! Daqui que a gente colhe, produz e chega no mercado para o cliente. Isso tem que ser valorizado. Se o agricultor não planta, não temos comida na prateleira do mercado”, enfatizou.
Para a agricultora, a mulher possui a mesma importância do que o homem, seja no campo ou em outros lugares. “Tem força de vontade e consegue fazer o mesmo trabalho, seguindo em frente sempre”, disse. “É um papel muito importante tomar conta da casa, da família e cultivar. É puxado, mas é a vida. Toda agricultora tem seu valor e importância. Misturar trabalho de casa, misturar as vendas, anotando encomendas, fazendo entregas. Tem que conseguir levar tudo meio organizado”, completou.
Inspiração para outras mulheres
Tanto Miriam como Soliete são inspirações para outras mulheres que possuem o sonho de empreender. “Precisa dar o primeiro passo. Se você tem coragem e força de vontade de empreender, tem a ideia, dá o primeiro passo que o resto vai dar tudo certo”, afirmou Soliete.
Seja em pequena ou em grande escala, a produção precisa de coragem e determinação. “As mulheres que tem vontade de agricultar, que são muitas, que agricultem. Que seja em pequena escala ou que não tenham medo de investir em escala maior, precisamos alimentar a humanidade. Eu como mulher não admito numa sociedade mulheres não poderem transitar em qualquer ambiente sozinhas. Eu estou num lugar distante, ermo, mas não venho sozinha pra cá. Ninguém deve vir sozinho para um local rural. E nenhum homem, por uma questão de inteligência, deve vir sozinho para uma região como essa. Temos animais peçonhentos que fazem parte do local. Não que seremos atacados, mas pode acontecer um acidente. Sempre que venho, venho com alguém que possa dirigir caso necessário, seja homem ou mulher”, ressaltou Miriam.
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