Pelas mãos calejadas de Maurício Weber, muitas obras de madeira já foram criadas. Afinal, são 60 anos que o são-bentense atua como escultor, produzindo peças que são admiradas por muitos, seja pela perfeição ou mesmo pelo realismo que imprime em seu trabalho.
Tudo começou na década de 1960, quando ainda era menino e acompanhava atentamente o trabalho de seu pai, Herberto Henrique Weber, que também era escultor. No início, Maurício estudava de manhã no Colégio São José e, depois, corria para casa para fazer trabalhos em marchetaria, tarefa que realizava para ajudar o pai em seus trabalhos particulares. Depois, os planos se tornaram mais sérios quando foi encontrar o pai no serviço — Herberto trabalhou a vida inteira na antiga Móveis Carlos Zipperer Sobrinho.
Por lá, Maurício, que tinha apenas 14 anos, foi convidado pelo próprio fundador da empresa a integrar a equipe e continuar trabalhando ao lado do pai. Foi assim que começou a fazer suas primeiras esculturas em nó de pinho, transformando a madeira em peças de animais, como tatus e porcos do mato. Os anos foram passando, suas técnicas se aperfeiçoando, e seu pai se aposentou. Com isso, Maurício deixou a empresa e passou a trabalhar por conta própria. Talvez poucas pessoas saibam, mas a empresa de madeiras ficava onde hoje é o Zipperer Park.
E quem passa em frente ao imóvel histórico pode olhar para o alto e ver o trabalho que foi realizado pelo próprio Maurício, os ornamentos que enfeitam a fachada. “A dona Nice, que é filha do Carlos, veio aqui, me trouxe o desenho como era, passei para o papel, fiz na madeira, eles mandaram fundir em concreto, levantaram e colocaram lá”, conta. Até hoje, o são-bentense guarda com carinho todas as peças que produziu na empresa, e como ele expõe, nunca irá vendê-las, são lembranças da época em que exercia o ofício ao lado do pai.
Dedicação no trabalho
Depois que saiu da empresa, Maurício continuou trabalhando na área moveleira. Em Rio Negrinho, aprendeu a esculpir em móveis. “Dali não parei mais”, menciona. Com todas as técnicas adquiridas, chegou a abrir uma fábrica de entalhados, aliás, um lugar que ensinou muita gente. Em 1996, finalmente veio a merecida aposentadoria, mas, em vez de aproveitar o descanso, continua trabalhando até os dias atuais. Atrás de sua casa, localizada no bairro 25 de Julho, ele segue com os trabalhos agora na sua própria oficina. Por lá, recebe o auxílio de sua filha mais velha, Lilian Emiliana, a única dos filhos que seguiu a trajetória do pai. E não fazem apenas esculturas, mas também pinturas, dando ainda mais realismo às peças.
Alguns trabalhos podem levar dias para ficarem prontos, como o quadro da Santa Ceia; outros, eles finalizam rapidamente, sempre entregando os pedidos dentro do prazo. “O pai é muito amoroso; às vezes faço algo meio errado, mas ele vem e explica, a gente arruma e faz. É o melhor professor”, orgulha-se. Já entre os trabalhos preferidos de Lilian estão aqueles em que ela consegue expressar toda a sua criatividade, herdada do pai, como orquídeas, entre outras flores transformadas em madeira.
Uma família talentosa
A família Weber carrega outros talentos. Enquanto Maurício herdou o dom de esculpir, seu irmão Hilário adotou a paixão do pai pela música. Ambos, Hilário e Herberto, tocaram na tradicional Banda Treml. Maurício só não seguiu o mesmo caminho devido a um problema auditivo, que começou na infância e persiste até os dias atuais. “Lembro-me de que, quando fui para a escola, naquela época era difícil; dava-me dor de ouvido, mas você acha que eles mandavam para casa? Ficava na escola mesmo e, como não tratei, tive a perda total da audição em um dos ouvidos”, revela.
E agora, no auge dos 74 anos, Maurício carrega várias histórias de força e superação. Por exemplo, em 2010, o entalhador sofreu um infarto após um dia intenso de trabalho, assustando todos os familiares. Porém, como ele gosta de mencionar, enquanto ainda tiver saúde e resistir, não vai parar de trabalhar. “Eu sempre digo assim: até Ele, lá de cima, me permitir, vou continuar trabalhando”, sorri.
Fé e devoção
Além de Maurício e Lilian trabalharem com peças feitas sob encomenda, eles ainda prestam serviços para a Serafim Esquadrias. Talvez um dos trabalhos mais conhecidos do entalhador, em parceria com a empresa são-bentense, foi o monumento em honra a São Bento, localizado ao lado da Paróquia Puríssimo Coração de Maria. O entalhador foi responsável por dar o acabamento final na imagem, como os detalhes das mãos e o rosto, um trabalho que durou quase um mês. “É um prazer indescritível, porque sempre pensei em fazer algo para a igreja que se destacasse, mas nunca tive a oportunidade; de repente, veio o monumento”, orgulha-se.
Uma das coisas que Maurício preza é sua conexão com a igreja católica. Quando ainda era criança, assim como muitos alunos que estudaram no Colégio São José, ajudou a construir a paróquia, tarefa que era designada aos mais jovens para levar os tijolos até os pedreiros, sob a supervisão do padre Fidélis Tomelin. “Era bom naquela época, porque quando a gente encontrava ele na rua, a cidade era pequena, então ele nos reconhecia e já vinha cumprimentando”, recorda.
Depois, já adulto, um dos maiores sonhos de Maurício era ver uma de suas peças expostas em alguma igreja. Antes mesmo do monumento, durante a pandemia, ele conseguiu realizar o desejo ao doar um crucifixo para a Capela do bairro 25 de Julho. O pedido havia sido feito ao antigo pároco da Matriz do Centro, Mário Tito Angioletti. “Ele o colocou, e agora está exposto na igreja”, detalha.
Em sua casa, há várias imagens de santos que ele mesmo produziu em madeira, entre outras peças. Há também homenagens que foram colocadas na sala de estar, como a moção que recebeu no mês passado da Câmara dos Vereadores de São Bento do Sul. “Isso foi algo que não esperava; com tantos anos de trabalho, nunca pensei que chegaria a isso”, conclui, emocionado.
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