Quinta-feira, 17 de abril de 2025

⁠Cansaço ou Burnout? Especialista de São Bento explica como diferenciar

Departamento para cuidar da saúde mental dos trabalhadores já é realidade no município

• Atualizado 14 dias atrás.

Reconhecida como uma doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2022, a Síndrome de Burnout é retratada por alguns como “frescura”. Ledo engano. “O termo ‘frescura’ remonta a uma época em que pouco se discutia sobre saúde mental ou mesmo sobre doenças mentais. Isso reflete a dificuldade que muitas pessoas ainda têm em lidar com aquilo que não é visível. Quando procuramos um médico, geralmente queremos identificar o ‘problema’ em um local específico, como o joelho, as costas ou o rosto”, aponta a psicóloga são-bentense Elisane Cordeiro, especialista em Saúde Mental no Trabalho.

“Já na saúde mental, não há um ponto físico claro para se tratar. É necessário trabalhar aspectos como comportamento, pensamentos, atitudes, padrões mentais, crenças, histórico de vida, experiências profissionais, sonhos, entre outros fatores”, completa ela, coordenadora do Núcleo de Profissionais de Recursos Humanos (RH) da Associação Empresarial de São Bento do Sul (Acisbs).

Dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT) indicam que aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a Síndrome de Burnout, ressalta ela. Ainda que não haja dados específicos sobre o burnout em São Bento, em algumas empresas do município já existe o equivalente a um “departamento para cuidar da saúde mental dos trabalhadores”, segundo Elisane.

Já no fim de mais um ano de trabalho, é necessário não confundir o cansaço acumulado ao longo de 2024 com a síndrome. Por isso, é importante compreender as diferenças. “Cansaço é uma resposta normal do organismo após esforço físico ou mental intenso. É algo que todos experimentamos, especialmente em períodos como dezembro, quando já vivemos mais de trezentos dias e, muitas vezes, tivemos pouco tempo para lazer ou férias. Além disso, o hábito de deixar tudo para a última hora pode aumentar ainda mais essa sensação de cansaço”, cita.

“O burnout, por outro lado, é uma condição reconhecida como uma síndrome ocupacional, diretamente relacionada ao trabalho. Enquanto o cansaço pode ser resultado de diversas demandas da vida (como responsabilidades domésticas, sociais ou escolares), o burnout é um esgotamento crônico e específico, provocado por estresse prolongado no ambiente de trabalho. Ele envolve não apenas exaustão física e mental, mas também está associado ao clima organizacional e às pressões do ambiente profissional”, enfatiza.

Como diagnosticar
“Uma diferença crucial”, conforme Elisane, é a seguinte: todo burnout inclui uma fadiga relacionada ao trabalho, mas nem toda fadiga é burnout. Para diagnosticar a síndrome, são utilizados critérios da Classificação Internacional de Doenças (CID), tais como o desgaste mental superior à capacidade de suportá-lo ou geri-lo; o distanciamento emocional no trabalho, caracterizado por sentimentos negativos ou apatia; a sensação de ineficácia, ou seja, a percepção de que o esforço não gera resultados; e a exaustão ou redução significativa de energia.

“Se a empresa possui um departamento de saúde, o colaborador deve buscar orientação diretamente com esse setor. Caso contrário, ele pode procurar um psiquiatra de sua preferência. É importante lembrar que psiquiatria e psicologia caminham juntas no cuidado com a saúde mental, sendo necessário o trabalho integrado desses dois profissionais para lidar de forma eficaz com a situação”, complementa a psicóloga.

Produtividade em baixa
De acordo com Elisane, qualquer colaborador exausto tende a reduzir sua produtividade no trabalho. “O que, consequentemente, pode gerar custos para a empresa”, lembra. Por isso, conforme a profissional, as empresas devem ter dados sobre o tema. “Indicadores fornecem um direcionamento claro para entender o que deve ser feito para reduzir afastamentos e melhorar o bem-estar dos funcionários”, declara.

As empresas – acrescenta a psicóloga – devem identificar eventuais falhas no ambiente de trabalho. “A saúde mental pode ser impactada por diversos fatores, como liderança ineficaz, sobrecarga de trabalho, falta de autonomia e controle sobre as tarefas, recompensas insuficientes ou injustas, ausência de pertencimento, falta de equidade, conflitos de valores e até mesmo situações graves como assédio moral ou sexual, entre outros”, diz.

Outra questão importante, frisa ela, é “manter um diálogo contínuo com os colaboradores, para compreender suas necessidades”, conforme suas palavras. “Mais importante ainda é começar essas conversas de maneira estruturada, eliminando preconceitos que possam existir dentro da liderança em relação a questões de saúde mental. É vital criar um ambiente em que os colaboradores se sintam à vontade para buscar ajuda quando necessário”, aponta Elisane, com 14 anos de experiência clínica e atuação em empresas de São Bento do Sul e região.

Não é luxo
Tendo participado recentemente de um importante Congresso de Saúde Mental, a psicóloga enfatiza, por fim, que cuidar da saúde mental “não é um luxo, e sim uma necessidade essencial para construir uma vida plena e um ambiente de trabalho saudável”. Ela comenta que, em caso de dúvidas, a pessoa deve procurar orientação. “Muitas vezes, o sofrimento mental pode passar despercebido, mas é importante enfrentá-lo com coragem e apoio profissional”, registra.


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