No carro de Anderson Luiz Loureiro de Melo Senior, há uma diversidade de produtos de limpeza à venda. Quase todos os dias, a rotina do vendedor é a mesma: ele estaciona o automóvel na Rodovia dos Móveis, no bairro Mato Preto, próximo à Capela Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Ali virou o seu ponto fixo, onde, faça chuva ou sol, espera os clientes. Mas o que poucos sabem é que, por trás dos itens à venda, que vão desde amaciante até água sanitária, há uma grande história de superação: a de Anderson.
Para quem pergunta o motivo de suas dificuldades de locomoção, ele conta, sem rodeios, que o dia 20 de março de 2020 marcou o início de uma nova etapa em sua vida. Apesar de não ser uma etapa fácil, ele sempre agradece a Deus por ter recebido uma segunda chance. Naquele dia, por volta das 9 horas, tudo parecia normal para Anderson, que tinha 44 anos.
Até que sentiu o braço esquerdo “pesado”. A princípio, não deu muita importância, pois, acostumado a lidar com ataques de pânico e ansiedade, acreditou que seria mais uma crise. No entanto, os sintomas se agravaram, e ele decidiu ir ao posto de saúde do bairro. Mesmo com medicações, ele continuava se sentindo estranho e foi ao Hospital Sagrada Família. Não foi apenas uma vez, mas três vezes no mesmo dia.
Somente à noite, já em casa, durante o banho, começou a ter convulsões e percebeu que apresentava sintomas de Acidente Vascular Cerebral (AVC). Ele voltou ao Hospital Sagrada Família, onde foi acolhido pela equipe médica. No dia seguinte, 31 de março, foi transferido para o Hospital São Vicente de Paulo, em Mafra, ficando sob monitoramento constante.
Até que, no dia 2 de abril, enfrentou o momento mais crítico de sua vida, quando houve o rompimento de um vaso cerebral, resultando em um AVC hemorrágico, seguido de trombose e infarto cerebral. “O coágulo estourou, encharcando 40% do cérebro”, relata. Dada a gravidade do caso, os médicos optaram por não realizar a cirurgia, pois havia duas possibilidades: Anderson poderia morrer durante o procedimento ou ficar em estado vegetativo para sempre.
Foi então que o neurologista Oscar Nelson Reimann Junior, motivando a equipe médica, decidiu realizar a cirurgia de alta complexidade, que, segundo Anderson, foi considerada um sucesso.
Pós-operatório
Após a cirurgia, Anderson ficou em coma por 10 dias e permaneceu 30 dias internado na UTI do hospital de Mafra, onde ainda enfrentou pneumonia e infecção sanguínea. Quando recebeu alta, iniciou um longo processo de adaptação. Com o apoio dos filhos e da ex-companheira, que estiveram ao seu lado em todos os desafios, ele precisou lidar com a perda total dos movimentos do corpo, sendo capaz apenas de falar. Ele permaneceu acamado por dois anos, sem conseguir sequer sair do próprio quarto. “Eu não sabia mais como sentar ou levantar. A única coisa que via era a janela, sempre na mesma posição”, recorda.
A primeira vez que conseguiu se levantar da cama e ficar de pé foi em 2023, após sessões de fisioterapia e muito esforço individual, já que tudo o que aprendia, ele treinava intensamente em casa. Seu maior desejo era recuperar a independência. Ele acredita que sua recuperação foi possível, principalmente, graças à misericórdia de Deus. “Quando saí pela primeira vez do quarto, pensa num homem que chorou”, relata emocionado.
O passo seguinte foi comprar o carro, que hoje dirige e que, além de ser seu meio de trabalho, se tornou sua cadeira de rodas. Apesar de ter vencido o AVC, Anderson ainda enfrenta sequelas, como dificuldade para andar devido à parte inferior da perna esquerda, que foi comprometida, e o braço esquerdo, que perdeu funcionalidade.
As vendas e o milagre
Antes de sofrer o AVC em 2020, Anderson trabalhava como segurança e motorista particular. Hoje, sua renda mensal, de um salário mínimo, provém do Benefício de Prestação Continuada (BPC), operacionalizado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). No entanto, sempre foi motivado a buscar uma renda extra. No passado, chegou a produzir e vender chocolates. Desde o ano passado, começou a vender produtos de limpeza na Rodovia dos Móveis, por sugestão de um amigo. O objetivo é obter mais recursos para o sustento familiar e, ao mesmo tempo, conquistar mais independência, sair de casa e interagir com as pessoas, já que não pode mais exercer sua antiga profissão.
Ele admite que, por enquanto, ainda não tem retorno financeiro, pois o negócio está no início. Muitas vezes, não consegue vender nenhum produto no dia, mas isso não o desmotiva. Sua fé é o que o mantém perseverante. “Se estou em pé, sem enlouquecer, é porque Deus tem um propósito para mim”, afirma. Quem deseja comprar os produtos vendidos por Anderson pode encontrá-lo no local escolhido, próximo à sua casa, em dias alternados, sempre das 9h30 às 18 horas.
Frequentador da Missão Evangélica União Cristã (MEUC), no bairro Mato Preto, Anderson acredita que sua recuperação foi um milagre. Ele compartilha que, durante o coma, vivenciou experiências no plano espiritual, onde sentiu que estava sendo levado ao “inferno”, até que o Espírito Santo o resgatou. “Se não fosse Deus, não estaria vivo. Morrer todo mundo vai, isso não é algo que me emociona, mas o que me emociona e mexe comigo foi Deus ter me livrado do inferno. Eu glorifico a Ele por ter me resgatado”, finaliza.
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