Terça-feira, 22 de abril de 2025

De São Bento do Sul ao exército americano: conheça a trajetória de Thay Dancini

Thay esteve de férias em São Bento e conta da sua rotina como sargento no quartel dos EUA

• Atualizado 18 dias atrás.

Em 2021, Thayenne Dancini tomou a decisão mais importante da sua vida: entrou para o exército dos Estados Unidos, a maior potência militar do mundo. Desde então, muita coisa mudou: ela ganhou mais responsabilidades e foi promovida a sargento no quartel em que trabalha, no Texas.

“Hoje me considero uma mulher empoderada, que saiu de uma cidade pequena, foi para um novo país, aprendi duas novas línguas, o inglês e espanhol, entrei no exército estrangeiro. Aprendi coisas novas, do treinamento militar, a ter mais disciplina, a ser mais focada e me tornei uma pessoa mais confiante, além de valorizar mais meu tempo e a família”, resume.

Natural de Curitiba, ela veio morar com a família em São Bento quando ainda era criança. Por aqui, estudou nas escolas Osmarina Batista Betkowski e São Bento, terminando o ensino médio no Roberto Grant (foto abaixo). E foi justamente no último ano escolar, quando os adolescentes tomam a decisão sobre qual profissão seguir no futuro, que ela começou a pensar além das fronteiras, após não ter sido aprovada no vestibular de medicina da Universidade Federal do Paraná.


“Lembro que fiquei super chateada, deu aquela crise existencial e fiquei perdida. Não sabia o que fazer, todas minhas amigas entrando na faculdade e você vê todo mundo indo para frente, subindo na vida e você para trás. Quando tinha 16 anos, achava que era o fim do mundo”, diverte-se.

Além de atuar na área da saúde, Thayenne sempre sonhou em seguir na carreira militar, inclusive no exército mirim brasileiro. Porém, quando tinha apenas 17 anos, arrumou as malas e foi morar nos Estados Unidos. Ela conta que a escolha pelo país surgiu pois já tinha familiares que moravam no país norte-americano. Por lá, chegou a trabalhar em diferentes ramos, como babá, limpeza e garçonete. Até que, aos 23 anos, em 2021, após incentivo de amigos e principalmente dos pais, Dirlene e Paulo Dancini, decidiu tornar-se uma soldada americana. “Meus pais e Deus são a razão do meu sucesso”, revela.

Forças Armadas
O alistamento militar nos Estados Unidos não é apenas para quem nasceu no país, mas existem requisitos que precisam ser seguidos. Para se alistar, é necessário ter o Green Card (documento que permite morar e trabalhar nos EUA), ter entre 18 e 36 anos, ter concluído o ensino médio — não é exigido diploma de ensino superior —, falar inglês fluentemente e não ter problemas sérios de saúde.

Thayenne também precisou realizar a bateria de Aptidão Profissional para Serviços Armados (Asvab), que consiste em julgar o intelecto de potenciais recrutas para a escolha de trabalho entre 150 opções. “É como se fosse o Enem, com várias perguntas de inglês, biologia, matemática, além de mecânica e elétrica. De acordo com a sua nota, ele te mostra quais trabalhos você está mais apto para fazer”, explica.

Depois de aprovado no Asvab, o recruta é enviado para o Treinamento Básico Inicial (BCT), na qual, durante 15 semanas, precisou encarar um longo e intensivo treinamento. Nesse período, os soldados aprendem a lidar com a pressão, enfrentando exigentes regras coletivas e sem contato com os familiares. Assim, ela ficou isolada do mundo externo, sem acesso a celulares, apenas se comunicando por cartas e dormindo poucas horas ao longo do dia.

“O sono foi o que mais pegou e a comida também. Emagreci tanto, lembro que meus pais foram na minha formatura e minha mãe disse ‘minha filha, eles estão te alimentando, o que aconteceu?’ Eles ficaram em choque quando me olharam. Você fica exausta, mas vale a pena cada momento, porque é uma experiência de vida incrível, forma o teu caráter”, revela.

Durante o BCT, ela aprendeu a atirar com rifle M4, jogar granada, usar coordenadas no mapa, manusear rádios e outros aparelhos táticos. Além disso, aprendeu a ter mais disciplina, trabalhar em equipe, rappel e até a sobreviver em eventos de uma bomba química. Após a graduação do BCT, ela conseguiu o direito de trabalhar na área de medicina em combate, cargo que ocupa até hoje nos Estados Unidos. Inclusive, durante sua formatura ela ficou entre os 10 melhores recrutas, recebendo a medalha de honra.

Médica de combate
Para atuar na função, precisou passar por mais um treinamento específico, para aprender a salvar vidas em combates. “Não sou médica, porém somos altamente treinados para salvar a vida de nossos irmãos e irmãs”, comenta. Ela explica que são várias as posições que consegue trabalhar, como na clínica do quartel, na linha da frente com a infantaria e até mesmo na evacuação, estabilizando e dirigindo os pacientes do ponto de ferimento até uma tenda médica improvisada.

“Tive a honra de trabalhar por quase todos. Quando trabalhei na linha com a infantaria e eles tinham que caminhar 20 km com a arma e mochila, ia junto, adicionando a minha mochila de primeiros socorros. É a posição mais perigosa de se estar, mas também a mais visada entre nós”, expõe.

Algo que ela gosta de mencionar é que, durante os quatro anos em que vem servindo no Exército, sempre mostrou muita iniciativa para aprender. Graças à sua dedicação e profissionalismo exemplar, neste ano, a militar que está com 27 anos, conseguiu ser promovida pela terceira vez desde que entrou, tornando-se sargento.

“Tenho muita motivação para trabalhar, tento fazer o máximo bem feito, prestar atenção em tudo. Tenho uma boa relação com meus companheiros de trabalho, com meus superiores, acho que esse foi um dos maiores motivos para crescer, que me ajudou a me promover tão rápido”, relata.

Vida de militar
Como integrante do exército mais poderoso do mundo, ela está a mercê de ser chamada para representar o país em missões militares no exterior a qualquer momento. Recentemente, ela permaneceu por nove meses com a tropa norte-americana na Europa, após o início da guerra da Ucrânia e Rússia. A base foi instalada na Polônia, por tratar-se de um país membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Por ser uma aliança, os EUA têm um compromisso com a defesa coletiva, o que significa que um ataque a um integrante da OTAN é considerado um ataque a todos. A presença militar estadunidense ajuda a garantir a segurança dos aliados europeus.

Essa foi a primeira missão dela fora dos EUA, e mesmo estando na Europa, a tropa não entrou em combate, ficando alojada no país europeu, caso houvesse a guerra. “A situação pode mudar de um dia para outro, não sabemos se seremos atacados, por isso o exército americano fica preparado. Tem tropas em todos os continentes do mundo”, explica.

Durante o período de missão na Europa, ela dormia em um tenda com capacidade para 60 pessoas, vários beliches e pouco espaço individual para os soldados. Além disso, também teve a oportunidade de conhecer seis países, como Alemanha e Lituânia.

Sonho americano
Thayenne trabalha de segunda a sexta-feira e reside no próprio quartel, no Texas. Sua rotina consiste em acordar 5 horas da manhã para treinamento em grupo, voltar para o alojamento e em seguida iniciar o trabalho. Apesar de, às vezes, ter pouco tempo para ver os familiares, que moram em Boston, a vida de um militar americano tem seus privilégios. Ela conta que eles recebem descontos em lojas de roupas e eletrodomésticos, seguro saúde completo, bolsa 100% integral em faculdades e juros baixos para comprar a tão sonhada casa própria.

Inclusive, quando está uniformizada, muitas pessoas a cumprimentam, agradecendo por servir ao país e até mesmo pagam a conta em restaurantes ou cafés. “Os americanos são extremamente patriotas e respeitam demais as forças armadas e policiais”, afirma.

Nos Estados Unidos, os militares podem se aposentar após 20 anos de serviço. Antes disso, precisam fazer rotação de instalação militar para diferentes Estados ou países a cada três ou quatro anos, quando o contrato esta prestes a encerrar. Após o término, o soldado tem a opção de se realistar ou encerrar o militarismo e voltar a vida civil. Dancini está completando o tempo de residência no Texas e terá que escolher uma nova base para continuar na carreira militar. E não será mais nos EUA, pois ela pretende seguir para o Egito ou a Coréia do Sul.

“Eles dão uma lista e precisamos escolher as opções que estão ali. Muitas delas vêm acompanhada com bônus financeiro, chegando até 40 mil dólares dependendo do lugar. Eu até poderia continuar no país, mas gosto de aventuras e explorar novas culturas. Gosto de sair da bolha, da minha zona de conforto. Minha mãe me deu a luz, mas eu nasci para o mundo”, sorri.

Enquanto ainda não toma uma decisão sobre seu futuro, a sargento retornou ao Brasil ao lado dos pais, após seis anos sem visitar os familiares. Já em São Bento do Sul, ela esteve no final de setembro, ficando hospedada na casa da tia Rute Dancini, no bairro Oxford. “São Bento tem meu coração, tenho muito carinho por essa cidade e fico feliz dela estar mais desenvolvida”, esboça.

Durante sua passagem, chegou a dar uma palestra motivacional aos alunos da escola Roberto Grant, lugar onde estudou no passado. “Foi muito legal. Eles me fizeram muitas perguntas, e eu tentei expandir os horizontes deles. Existem tantas oportunidades, especialmente começar a aprender inglês, que é tão importante. Juntar dinheiro e sair dessa bolha; o mundo é muito maior do que onde estamos”, encerra.

De volta ao exército
Thayenne já retornou para os trabalhos no exércitos dos EUA. Quem quiser acompanhar a vida da militar, ela compartilha sua rotina em suas redes sociais para os seus mais de 64 mil seguidores, através do @thaydancini.

Assista a reportagem em vídeo:


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