Segunda-feira, 28 de abril de 2025

Você sabe para que serve a película que é entregue junto à máquina de cartão?

Falta de conhecimento e orientação impede o uso de tecnologia inclusiva em maquininhas de cartão

• Atualizado 25 dias atrás.

Dia após dia, as pessoas com deficiência buscam por acessibilidade por onde quer que vão. Seja a calçada com pavimento correto, rampas na entrada de comércios ou outras funções mais simples, como fazer suas próprias compras. Mas e no caso de deficientes visuais, como efetuar o pagamento em uma loja? É preciso confiar seu cartão e senha a um desconhecido ou certo valor em dinheiro na garantia de ter o troco certo? Por conta disso, muitas maquininhas de cartão já possuem em suas embalagens a película de acessibilidade, mas a grande maioria dos comerciantes ainda não sabe para que ela serve.

A película, como o próprio nome sugere, é um acessório que precisa ser colocado no teclado da maquininha de cartão. É através dela, com inscrições em braile, que o deficiente visual conseguirá digitar sua senha. “Cada vez que eu vou aos mercados e às lojas, pergunto se têm a película de acessibilidade. Eles dizem que não têm ou que não sabem como usar. E isso é um produto que já vem junto com a máquina do cartão”, explica Maria Glaci, secretária executiva dos Conselhos em São Bento do Sul.

Para Sirlene Pronikirski Rocha, que é deficiente visual e vice-presidente do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência (Comde), muitos ainda desconhecem a película. “Eles jogam fora porque não sabem para que serve. Mas, se acaso perder, podem pedir de novo para a operadora”, comenta.

Sobre a importância do acessório, Sirlene afirma que ele dá maior autonomia e segurança para as pessoas com deficiência visual. “É necessário isso. Coloca a película em cima e você consegue digitar, ela tem o alto-relevo e pelo tato fica mais acessível”, disse. “Se não tem, você fica à mercê de todo mundo. Para a gente é muito melhor, não precisar dar a senha para alguém e fazer a mesma coisa que todo mundo”, completou.

Falta de conhecimento
Conforme Sirlene, há outros tipos de tecnologia que poderiam ser utilizados no comércio local. “Estamos evoluindo, mas ainda tem muita coisa pela frente. Já tem uma maquininha de cartão que fala, é mais acessível que a película, mas a película já é alguma coisa. Fui para Belém e nos ofereceram ela no hotel e em vários locais do comércio”, ressaltou. “Podem ser poucos que compram, mas de vez em quando aparece alguém, mesmo de fora da cidade, que quer comprar e já está acostumado com essa tecnologia. Aí chega aqui e não tem”, completou.

Segundo Glaci, a questão está justamente na falta de conhecimento da lei. “As pessoas não sabem que foi criada uma lei para se utilizar a película. Não veio do nada, foi debatido isso. É o PL 4.836 de 2020, que solicita que o comércio utilize a película para deficientes visuais. É uma película igual à da tela do celular, mas tem um pequeno alto-relevo para saber onde se localizar na numeração. Nós vamos ver a numeração normal e a pessoa com deficiência vai digitar em braile”, explica.

Relação de confiança
Alexandro Scherer, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de São Bento do Sul, cita que a não utilização da película deve-se também ao fato da falta de orientação pelas próprias operadoras. “É algo que, na minha visão, realmente é acessibilidade. Não acredito que algum lojista não colocaria se realmente soubesse do que se trata. É para facilitar e não vai atrapalhar quem tem a plena visão”, ressalta.

Para ele, caso não haja a película, o deficiente visual acaba tendo que estabelecer uma relação de confiança com o lojista. “Acredito que não seja uma população tão grande aqui com a deficiência visual, mas essa autonomia faz com que a pessoa crie mais coragem de fazer as coisas sozinha. Tínhamos uma família que comprava na nossa loja e eles tinham crediário conosco. Era aquela coisa da confiança, não tinha nada voltado para eles. Isso é algo a ser pensado mesmo”, afirmou.

Inclusão
Inclusive, a CDL realizou uma pequena pesquisa entre 50 de seus associados no município. Desses, 48 não utilizam a película e um não soube responder. O único da listagem que afirmou possuir o acessório é Christian Jung, da Ótica e Relojoaria JB. “Temos na loja, mas é pouco utilizada. Temos dois ou três clientes com deficiência visual aqui. A gente atende, fazem no cartão, digitam a senha ou nos falam ela. Confiam na gente e já aparece no celular deles, pela fala, que foi feito o pagamento no valor tal”, explicou.

Para ele, falta acessibilidade em diversos pontos da cidade. “Acho que os ônibus não estão preparados para eles, que precisam vir para o centro, por exemplo. São poucos ônibus que têm elevador para cadeirantes ou para pessoas com deficiência visual. Nas empresas, faltam treinamentos. Os surdos, onde tem gente que fala a língua de sinais? Já aconteceu com a gente de deficiente auditivo sair bravo daqui, eles também precisam comprar”, frisou Jung.

Em sua loja, localizada na Avenida Argolo, Christian dispõe de três tipos de máquinas de cartão, sendo uma com touch screen e com a película, e outra cujo teclado possui relevo indicativo nas teclas.


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