Mathias Herzer não é são-bentense de nascença, mas carrega consigo mais amor pelas tradições do município do que muitos moradores que estão pelas redondezas. Na sua casa, entre as várias decorações que embelezam o lugar, estão lembranças – até mesmo homenagens -, que mostram como o simpático senhor é uma figura importante para São Bento do Sul. Natural de Rio Negro, no Paraná, ele nasceu no dia 19 de fevereiro em 1929. A nova idade, 95 anos, foi comemorada recentemente, ao lado dos familiares. Mesmo quase chegando ao centenário, a saúde de Mathias é como de um “homem de 50 ou 60 anos”, como ele próprio gosta de dizer.
Já sua memória é para fazer inveja para qualquer pessoa. Ele se lembra de todos os momentos marcantes da sua trajetória. Seus pais, João e Maria, foram imigrantes vindo da Áustria, e da união vieram oito filhos, entre eles, Mathias, o caçula dos irmãos. Entre a rotina familiar, tinha espaço para as melodias, afinal, o pai foi um grande entusiasta musical.
Na infância, estudou no seminário, ao lado de padres franciscanos. Por lá, além do ensino básico, teve a oportunidade de aprimorar toda a paixão que herdou do pai pela música. “Eles tinham uma banda muito boa, um coral ótimo”, recorda.
Já na vida adulta, mudou-se para Mafra, sendo que em 1956 fundou um dos maiores orgulhos da sua vida, a Banda Padre José Maurício. No início, eram 28 integrantes, entre eles, seus irmãos ajudaram a compor o grupo. Ao longo dos 68 anos de existência, um dos momentos mais marcantes na história da banda ocorreu no dia 30 de março de 1957, quando se apresentaram para o presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek. A honraria foi para a inauguração da ferrovia Mafra – Lages, sendo os responsáveis em cantar o Hino Nacional.
Incentivador
O ano era 1973 quando Mathias arrumou suas malas e firmou moradia em São Bento do Sul. Por aqui, trabalhou durante anos na Móveis Weihermann. Além disso, foi convidado pelo amigo Hugo Weiss para integrar a consagrada Banda Treml. Inclusive, após a morte do Affonso Treml, o Xerife, quem assumiu a função de maestro foi o próprio Mathias. Aliás, um fato simbólico é que os “Treml”, começando com o fundador João e depois Affonso, sempre estiveram à frente do grupo musical. Com isso, Herzer foi o primeiro músico sem nenhuma ligação familiar a assumir a honra de comandar a Banda Treml.
Ao todo, ele permaneceu como maestro entre 1980 a 1993, onde guarda com carinho dos amigos, viagens e das Retretas de Verão. “Elas eram muito frequentadas, vinha gente de Joinville, de Mafra”, orgulha-se. Durante seu período como maestro, buscou recursos para a compra dos novos uniformes, instrumentos, trouxe novas músicas e incentivou o ingresso de jovens. Além de promover a tradição e cultura musical, Mathias foi um grande incentivador cultural para o município.
Após se aposentar da Móveis Weihermann, recebeu outro convite notável, desta vez, do então prefeito Genésio Tureck, para se tornar o primeiro presidente da Fundação Cultural. Na função, ficou por oito anos, também na gestão de Lourenço Schreiner. Entre as diversas ações, ele foi um dos responsáveis em adquirir o prédio do antigo Cine Brasil, transformando-o no atual “Centro Cultural Dr. Genésio Tureck”, palco de várias apresentações. “Fizemos tudo novo, o piso e as poltronas”, relata.
E a palavra “descanso” nunca entrou para o dicionário na vida de Herzer. Entre as várias atribuições, ele ainda arranjou tempo para dar aula na Escola de Música Donaldo Ritzmann. “Conheci o Donaldo, ele esteve na minha casa várias vezes. Dava aula na escola e ele ficava assistindo, ele me valorizou muito”, sorri.
Vida saudável
Mathias é um exemplo de vida para qualquer pessoa. Agora, com 95 anos, forte e inteligente, sua saúde é reflexo da rotina que levou ao longo das nove décadas. “Nunca bebi e fumei, sempre cuidei da alimentação”, expõe. Aliás, saúde sempre é um assunto levado à risca pela família. Durante a pandemia da Covid-19, ele até chegou a cobrar o prefeito Antônio Tomazini (PL) para iniciar a vacinação no município. A ordem foi tomada, sendo que em 2021, quando tinha 92 anos, ele foi o primeiro idoso a tomar a vacina em São Bento do Sul.
Para isso, ele recebeu a equipe da Secretaria de Saúde na sua residência. E agora, nos dias atuais, ele sempre arruma um tempo para fazer suas caminhadas. “Me sinto bem, como se estivesse com 50 ou 60 anos”, diz, aos risos. Até mesmo com a música, ele ainda continua a exercer o ofício que tanto ama, seguindo na regência da Banda Padre José Maurício, em Mafra, participando de inúmeras festas e desfiles cívicos. Nas horas de lazer, na sua casa, ensaia as músicas com o seu fiel trompete. Hoje, ele divide a vida ao lado dos filhos, Silvane e Marcelo, dos genros Rogério e Adriana, além dos netos Daniel e Gabriel Mathias Herzer. “Ele sempre é muito dedicado, para nós, é um orgulho”, encerra a filha, Silvana.
Ordem dos Músicos
Se há algo que ele guarda com carinho, até mesmo exibe para todos seus conhecidos com orgulho, é sua carteira quando atuou como delegado da Ordem dos Músicos do Brasil. A autarquia foi criada em 1960, onde era exercido em todo o país a seleção e defesa da classe musical e a fiscalização do exercício da profissão de música.
Até mesmo em frente à sua casa está exposto um quadro com a nomeação. Ao longo de toda a sua história, ele recebeu várias homenagens, como da Câmaras de Vereadores de Mafra/Rio Negro/São Bento do Sul, do Rotary Club de Mafra, da Prefeitura, da Fundação Cultural e também no aniversário da Banda Treml, em 2014.
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